Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




domingo, 28 de dezembro de 2008

12 Invasão

Invasão.

Odeio invadir...mesmo que ás vezes faça isso sem querer...bisbilhotando coisas...abrindo caderninhos...folheando revistas que não me pertencem...., mas faço isso sem maldade e raramente pois, odeio invasão.

Não gosto nem de abrir bolsas ou carteiras que o próprio dono me pediu...mesmo que pra procurar alguma coisa para esta mesma pessoa., faço, mas me sinto as vezes constrangido. INVASÃO.....Aquela de privacidade...aquela que usa do artifício de tentar nos ajudar a tomar decisões , se apóia na justificativa de que se não tivessem acontecido...nada seria feito, como se quiséssemos ou precisássemos que alguma coisa que ainda não fizemos, ainda não pensada por nós mesmos, pelos outros que invadiram fosse feita.

Em suma, Odeio invasões.

Odeio até mesmo as de coração...aquelas que as vezes fazemos quando nos referimos aos antigos namorados de nossa esposa (ou idem ao inverso)., quando perscrutamos ou fuçamos peças íntimas em busca de algum indício de que talvez estejamos sendo traídos, mesmo sem qualquer razão aparente e como justificativa, apenas o nosso medo interior, nossa insegurança...e é claro nossa insensatez e inerente estupidez.

Tive uma amiga, que tinha a mania de nos encontrar em plena rua, e então ficava nos olhando sério e fixamente no rosto.....pedia então pra esperar um pouquinho pois estava vendo alguma coisa ...e então, enfiava o dedo direto dentro do nosso nariz....que coisa mais horrível de se fazer com alguém......Enfim, odeio invasões...de terra, de espaço...de privacidade...de sabei-me deus do quê... só sei que as odeio.

Quem nunca brigou ...xingou ( com x mesmo)...chorou porque a mãe ou o pai foi mexer naquela gaveta especial..naquele caderno especial...naquele segredo especial. Muitas vezes sequer seriam segredos mesmo...daqueles de arrepiar a espinha..na verdade (quase todos), eram bobagens simples...errinhos de percurso...mentirinhas bobas feitas com intuito de encobrir outras razões...muitas delas até nobres..enfim..bobagens...vãs e tolas...bobagens..mas para nós tinham (e ainda têm), uma importância absurda, tal a magnitude de nossas razões e importâncias que lhes damos , ou de possuirmos um lugar só nosso.

Muitas vezes não conseguimos ter um lugar só nosso...nosso mesmo...onde só nós temos a chave e ninguém mais vai abrir...pode ser um cantinho em um quarto...uma tábua solta no assoalho onde escondemos coisas....uma caixa ou baú daqueles dos filmes.....uma pedra no campo.....uma árvore perdida no mato e perto dela , aquele bilhetinho que achamos na rua e dizia coisas bonitas....nem era pra nós.mas guardamos...é nosso.

É uma pena que ultimamente as pessoas como EU (que odeiam invasão) , têm que na maioria das vezes guardar coisas somente na memória ( e olhe que até lá já estão inventando coisas que ir fuçar ). Eu já a algum tempo tenho memorizado poemas ( que só os leio para mim),alguns textos..... guardado algumas imagens de locais e situações lindas, que se fosse em fotografia poderiam magoar outras pessoas, mas para mim são imagens lindas...para quem fuça ou invade, até lembrança não nos pertencem...até recordações devem ser partilhadas...EU odeio invasão.

Enfim...só memorizando mesmo...só escondendo mesmo...só mentindo mesmo...e mesmo assim....por mais que saibamos que talvez não seja muito correto ter segredos, mesmo que sejam para com a esposa, para com o amigo, para com o padre , ..compreendemos também que é direito do cidadão...do indivíduo...do ser humano., do raio que o parta. – como diria um meu amigo: Caráio!

Temos sim o direito de guardarmos segredos...mesmo das coisinhas mais tolas que outros até diriam: Porque tanta frescura com essa tolice?....e então podemos pensar: Por ser minha...me pertencer...e a mais ninguém – mas na maioria das vezes infelizmente nós dizemos, contemporizando o assunto: Você está certo...realmente é uma bobagem.

E então eu me lembro novamente do meu amigo e completo:

CARAIO!.

Pode?

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

11 A chorona

A Chorona.


Morávamos no 11º andar de um edifício em frente a praça Rui Barbosa, em uma República que intitulávamos “Computação Oito” , formada só por homens, e no andar de cima, uma República formada só por mulheres que se chamava “Sódamas e Gangorra” , e uma delas era a Daniela , para nós simplesmente “ Dani”, que vivia nos visitando, trazendo consigo um rosário de lamentações que faziam juz ao apelido que lhe demos de “Chorona”.

Tocava a campainha e ao olharmos pelo olho mágico e vendo a Dani gritávamos “Que Deus nos ajude”, e todos se preparavam , se acomodavam ou se escondiam, e ao abrimos a porta, ela sem cerimônia, se embarafustava para dentro, aos prantos, desvairada, louca e completamente fora de si.

- Pu-ta – que – o -pariu -, vocês não sabem o que me aconteceu....- e então começava ela...e dá-lhe desilusão amorosa e com a raça humana, e toma-lhe tristeza ante um namoro problemático com um tal de Paulinho, e desfiava um carretel de decepções tão pungentes, que só paravam quando algum de nós dizia: Quer tomar ou comer alguma coisa?

- -Ai ! que gracinha, aceito sim , muito obrigada, é que quando eu fico triste, desconto tudo em comida e bebida, tem vinho?

E sem esperar sequer a resposta, invadia nossa cozinha e começava a literalmente saquear nossa geladeira, dizimava nossa dispensa, aniquilava nossos estoques de provisões, e como se não bastasse, , dilacerava nossas almas ingênuas e complacentes com a dor alheia, com suas admoestações e lamurias, e ao sair dizia sempre “Vocês são uns amorécos, uns fofos!” . , deixando atrás de si, uma montanha de louças sujas, copos ainda quase cheios, pedaços de franco, farelos no sofá, tapete desarrumado, revistas espalhadas, guardanapos amassados, talheres por todo canto e um sem fim de desordem, que tínhamos que perder algum tempo para colocar a casa novamente em pé, após aquele desastre .

Aquela rotina de Tornados e tissunamis propiciados pela Dani, perdurou por mais uns dois anos, até que o destino de nossas juventudes nos levaram para outros caminhos, outros Vendavais e Tornados, por vezes tão avassaladores e destruidores de bens materiais e almas desconsoladas, tal como a Daniela, que nas minhas recordações , por vezes saudosistas, dos tempos de juventude desvairada, com um pouquinho de carinho complacente, ás vezes perguntava a mim mesmo “ Como será que está a Dani? , será que está mais feliz?, será que casou-se com aquele namorado que ela tanto amava e lhe fazia correr rios de lágrimas salgadas?, ou será que acabou explodindo, de tanto comer perante este mundo tão cheio de mágoas, desavenças, desatinos e tristezas?”

Um dia encontrei um amigo do “ Computação Oito “ , e enquanto tomávamos uns chopp, naquelas mesinhas ali da rua das flores, num papo animado, regado a batatinhas e salaminhos, conversa vai, conversa vem, gostosas recordações foram despertadas , de fatos que se perpetuaram em nossas almas, cintilantes como cristais de brilhantes reluzentes e muito ávidos de polimento, quando então perguntei.

- Lembra da Daniela ? , nunca mais a vi, como será que ela esta?

- Lembro sim, mas nunca mais a vi também, mas lembra do Paulinho ?, o namorado dela?, ganhou na loteria sozinho na semana passada e se mandou do Brasil!

- XIII., dissemos juntos – tomara que ele tenha levado a Dani junto, senão, alguém vai ter um problemão pra resolver.

E assim, continuamos conversando sobre aqueles tempos,,,, Bons tempos do Computação Oito , e das peripécias e mazelas em nossas saudades, perpetuadas pela nossa amiga Daniela, a Chorona, que morava no Sódama e Gangorra.

Pode?

domingo, 14 de dezembro de 2008

10 O Casemiro.

Casemiro!

O Casemiro é um lugar especial de Curitiba, típico Bar com petiscos, abastecido com Bucho á milanesa, frango frito e rollmops, e onde é impossível não se experimentar a Carne de Onça, jogar conversa fora, falar de política e religião, receita de bolo, contar causos e piadas, . chorar as Pitangas, freqüentado por uma miríade infinita de personagens com características marcantes, porem mais de 95% Homens, homens mesmo, na verdadeira concepção da palavra, agora, os outros 5%, são pessoas que se parecem com homens e algumas mulheres que também idem, muitas vezes (em alguns casos) se parecem com eles. (hehe).
Neste lugar, ali na rua São Francisco, num beco de duas quadras, repousam algumas das construções mais antigas da Capital do Estado, janelas antigas, com luzinhas bruxuleantes de alcova, muitos prédios abandonados pelo poder público, e alguns relegados ao esquecimento pela história, mas a quadra entre a Riachuelo e a Barão do Cerro Azul, é largamente utilizada como passarela no trotoar pelas camélias e mariposas noturnas (se é que me entendem...). Eu, fazendo parte dos 95% , conheço pessoas muito interessantes e peculiares , que passam pelo Casemiro, e com personalidades marcantes e qualidades Profissionais, Artísticas e Culturais impressionantes.
Foi no Casemiro, enquanto aguardava para voltar ao Poty Lazorrotto , que é a escola em que me matriculei para dar seqüência aos estudos, que conheci um senhor bem velhinho, cabelos brancos, bigode muito bem aparado, de terno completo, gravata borboleta e bengalinha, chamado: Orlando Woczikosky, que me cedeu um papelzinho com algumas de suas poesias, que sem manifestar qualquer timidez, não se furta a declamar em público e raso, bastando para tanto somente, que o ouvinte apenas lhe dê a mínima atenção, que mesmo pelo respeito á sua idade, poucos (com certeza somente aqueles que não possuem educação para tal), não lhe concedam, e eu aproveito para aqui, deixar o recadinho do colega Orlando:
O Milagre da Trovinha

Disse-me um dia a comadre:
- A mulher só dá carinho
Quando o indivíduo for padre
E lhe mostrar o santinho...

Se assim não for, ao contrário,
Ao contrário do primeiro,
É só se for milionário,
E lhe mostrar o dinheiro.

Quem não for rico nem padre,
Por outros meios insista:
-Trovinhas, diz a comadre,
Não há mulher que resista!

O João, é outra figura também incrível, que se auto-intitula: João , a voz que clama no deserto – eletricista por profissão, é também ator Autodidata, imita de tudo um pouco, de pássaros a animais de toda a espécie, figuras de desenho animado e artistas de tv de rara estirpe, porem o mais impressionante é a capacidade da memória dele para lembrar datas de falecimento de pessoas ilustres.

- João , quando morreu Tom Jobim ?
- Morreu em tal...do ano tal.
- E o Airtom Senna?
- Morreu jovem esse menino, coitado, só tinha tantos anos, morreu em tal do ano tal
- E o Tim Maia ?
- Esse morreu em tal do ano tal..

E por aí vai. Porem havia escrito eu, metade dessa estória quando parei para fazer uma pausa, e então , seguindo o cotidiano de tarefas a cumprir , saí e fui para o Casemiro, pensando lá chegar e encontrar os colegas todos, que comigo compartilham alguns momentos naquele espaço, quando ao chegar encontrei as portas fechadas, e exposto um pequeno cartaz dizia: Fechado por motivo de Falecimento do Sr. Casemiro...fiquei consternado e literalmente desapontado com o Casemiro, homem forte, comedido em seus comentários junto a clientela, porem pessoa que sempre aparentou boa saúde e nunca soubera eu que algum problema de saúde o sensibilizava.

Enquanto estava lendo o cartaz, ouvi a voz de colegas me chamando em estabelecimento do outro lado da rua, onde todos se encontravam...olhos tristes marejados... cabisbaixos e consternados diante do inusitado ocorrido com Casemiro, que já ao café da manhã, curvou os braços e simplesmente dormiu, quedando sobre um infarto fulminante do miocárdio.

Foi quando o João sentenciou!

-Casemiro nosso amigo: faleceu em 10.05.2007 – e agora é uma pessoa ilustre nas nossas lembranças.

Seus colegas: Com saudade sempre se lembrarão de você.

Essa...Não pode!

domingo, 30 de novembro de 2008

9 Memória confusa.

Memória confusa.

Memória Confusa

Fui criado praticamente só por mulheres, pois meu pai e minha mãe se separaram quando eu ainda era bem novo, e portanto as mulheres é quem me criaram , para a vida e para tudo. Minha mãe, minha irmã, Tia Nelma (a viúva). Minhas primas Rosa, Rose e Margarida , que são filhas da Tia Nelma, minha avó (também viúva) e a Maria, nossa governanta e defensora nas brigas da escola e nos entreveros com garotos de rua, ou, irmãos de meninas que moravam próximos a nossa casa, alguns destes coleguinhas da escola.

A Maria era tão defensora que os garotos da minha escola dela tinham verdadeiro pavor e fugiam assustados, ou então davam voltas e voltas á pé, para não lhe cruzar o caminho, porque ela batia mesmo, e não queria nem saber. Se eu chegasse em casa com marcas de haver sido agredido por qualquer um deles , ela me pegava pela mão e saia comigo pela ruas, pedindo só pra eu apontar quem seria o agressor e então, dá-lhe cascudo no agressor malvado, que havia batido em seu xodó.

Óbvio que por conviver só com mulheres, eu detinha do estereotipo feminino algumas características de educação e de comportamento peculiares, diferentemente dos demais garotos da rua ou da escola. Falava de forma mais pausada, não gritava, muito raramente falava palavrões, não dava socos ou pontapés, era gentil e asseado e á mesa então praticava todos os rapapés, até comer com livro embaixo do braço me faziam treinar para que não ficasse com as asas sob a mesa, enfim perto daques outros coisos eu era um gentleman ( a Maria que obrigava a parecer com um).

Tudo isso não seria problema algum, não fosse o fascínio que as meninas “Todas” , tinham por mim e pelo meu jeito de ser. Me procuravam para conversar na escola, em casa, me abordavam durante o recreio e eu vivia portanto cercado de meninas, o que causava intrigas dos demais e despertava a ira e ciúmes dos irmãos destas.

Elas me contavam seus segredos, pediam minha opinião sobre alguma roupa ou penteado, me mostravam seus diários (onde inclusive , ás vezes, eu encontrava alguma menção carinhosa a meu respeito) , me contavam as proezas e peripécias com que haviam resolvido algum problema, e eu até, dei conselhos e instrui de alguma forma sobre, maquiagem, perfume (que faziam questão de estendendo o pescoço, me pedir para cheirar e aprovar), menstruação e uma infinidade mais voltada ao universo feminino, porque para mim , estes assuntos eram próximos e praticamente corriqueiros.

Na minha rua, todos os dias ao final da tarde, as crianças saiam a brincar espevitadas, os garotos brincando de bandido ou mocinho, lutas de gigantes, futebol de pelada, bola de gude com birosca, soltando pipas e coisas assim, e as meninas de bate palma, amarelinha, passa anel com direito a beijinho no rosto como prenda de castigo, pula elástico ou pega esconde, quando atrás das várias árvores que se perfilavam nas calçadas, ou nos jardins imensos de algumas casas, eu e as meninas nos escondíamos.

As casas eram todas diferentes umas das outras, e as brincadeiras se estendiam pela tarde e início do anoitecer, mas existiam duas casas abandonadas, onde os meninos raramente iam com medo de fantasmas, ladrões, almas penadas e outras temeridades da imaginação fértil , mas na nossa brincadeira de pega esconde que eu participava com as meninas , estas casas eram o esconderijo preferido.

Foi em uma destas casas que experimentei o meu primeiro beijo roubado, o primeiro roçar de mãos sobre um seio, o primeiro aperto de mãos suadas excitantes e onde num lugar secreto , deixava meus poemas apaixonados enrolados em bilhetinhos para algumas delas. Juras de amor infinito, rimas que exaltavam o carinho que eu tinha, as sensações e ansiedade para o próximo encontro, recados feitos em folhas arrancadas do caderno, que ficavam dobradinhos escondidos debaixo de um tijolo ou de uma pedra, que só eu e a minha cúmplice, sabíamos onde ficava por combinação anterior, que havia sido sussurrada no ouvido, durante alguma brincadeira de pega esconde ou no beijinho do passa anel.

Bons tempos é claro, porem, passados já quase meio século, a idade atrapalha, e a memória confusa distorce muitas lembranças e então, infelizmente, percebo eu , que da rua, das árvores, das casas, dos poemas, tenho certeza, não lembro quase nada, mas das meninas.....Ahhhhh as meninas.

Pode?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

8 Renascimento II

Renascimento II.

Um dia, depois de algumas semanas sentindo dores nas costas, mesmo a contragosto, resolvi que iria consultar um médico, e verificar o que estaria acontecendo, afinal, não podia continuar daquele jeito, capengando feito um velho ( e olha que eu só tenho 65 anos), e já estava ficando como dizia um amigo meu: Entrevado e tropicante.

Procurei na lista telefônica e fui a uma médica e lá chegando expliquei-lhe o problema, e então ela começou com aqueles questionários infindáveis, sobre a qualidade de vida, exercícios, hábitos , peso, blá, blá, blá etc., e depois de me examinar, escutar os batimentos cardíacos, apalpar aqui e ali ela sentenciou:

- O Senhor está bem acima de seu peso, é pessoa sedentária, fica sentado ao volante de seu carro ou no escritório e assim desenvolveu má postura, é fumante , estressado e precisa fazer o exame da próstata e praticar atividades físicas regulares.

Ao que eu retruquei , já exasperado.

- A Senhora agora está aqui me ofendendo ?

- Desculpe, não entendi...- disse ela.

- Se eu estou acima do peso é porque estou GORDO e ainda por cima GLUTÃO pois estou comendo demais e portanto também sou um ESGANADO, se sedentário sou PREGUIÇOSO , se desenvolvi má postura sou DESLEXADO, se fumante, sou VICIADO DEPENDENTE, Estressado IRRITADIÇO, ora doutora sou tudo isso? Ah. E ainda nem falei sobre o negócio da próstata.....

- SIM, se prefere desta forma, o senhor realmente é isso tudo sim.

Saí do consultório desconsolado, abatido e desiludido com aquela médica, “ quem ela pensava que era?”, porem disposto a tomar alguma medida drástica para mudar tudo isso, e ali pertinho, vi uma placa destas de Academia de Ginástica, entrei e fiquei olhando aqueles jovens lindos , corpos sarados, todos suando....suando, e aquela música ensurdescente :Tum Tum Tum, gente erguendo peso, correndo parado naquelas esteiras, pedalando esbaforido nas bicicletas ergométricas, se esticando, contorcendo, pulando, um horror...

Não sou pessoa com paciência suficiente para entrar nessa rotina angustiante, isso sem contar o preço exorbitante que deveria pagar de mensalidade por uma coisa que verdadeiramente , sem tirar nem por , pode perfeitamente ser classificada como: “Tortura Medieval em ritmo dance”. Em um instante, já me via com aquele shortinho apertado, uma barriga protuberante lembrando a uma grávida de sete meses, ao lado de uma mocinha magrinha, lourinha, lindinha, e eu suando em bicas, todo vermelho, com os olhos esbugalhados, sorriso amarelo (diz a médica que é por causa do cigarro), com meu tênis Kichute fedendo a chulé, e o pior , ela olhando pra mim e rindo dizendo gostoso em tom de incentivo : Vamo lá Tiozão, vâmo perdê essa pança....

Iniciei minha corrida saindo dali desvairado, com as mãos na cabeça gritanto: Nãna, Nina , Nãooooo!.

Resolvi, depois de outra semana, fazer exercícios de um jeito mais light, Mais parecido comigo, mais do meu jeito, e fui na Riachuelo ( lá as lojas dos turcos vendem mais barato e de tudo), comprei um calção moderninho ( tava escrito Hip Hop em cada banda da bunda), comprei um Kichute novo, uns tacos de bets, um boné, uma bola de voley, corda pra pular, e com essa parafernália toda, já devidamente trajado, besuntado de bloqueador solar e lembrando ao Cride do golias , abri o portão da minha casa no sábado de manhã, e aparecendo na rua gritei para a molecada:

- E aí moçada ? , vamos brincar um pouco?

Eu moro num lugar pacato, e sábado de manhã, vários vizinhos costumam tirar seus carros para a rua, e então começa a lavação, gente emprestando mangueira, revezando o uso de aspirador, crianças correndo e brincando com seus cachorros, vendedores ambulantes tentando vender algodão doce, carros abertos com som ligado, me pareceu que tudo isso parou, quando as pessoas ao me ouvirem olharam para mim...

Com num filme em que haviam apertado o pause, eu me senti um lixo, fiquei com o rosto quente, meu coração palpitante, e até aquela veia que temos no pescoço, parecia que ia saltar fora, naquele momento, eu era uma formiginha, um nada, que esperava só o derradeiro esmagamento, tamanha a vergonha e vexame que eu sentia.

Mas , para minha surpresa, passados aqueles segundos de anos luz, a molecada gritou:

- EHHHHH.

E vieram todos correndo para o meu lado, alegres e sorridentes, para me abraçar....., quando então a minha emoção foi tamanha que sem querer eu soltei um enorme PUM bem alto e daqueles cheirosos ainda por cima.

Foi quando as crianças ao chegarem perto ouviram e então começaram a recuar, e um deles falou:

- Chiiii..orra Tio o senhor ta morto?

E eu , agora com uma coragem imensa, enchi o peito e disse:

- Não meu amiguinho, acho que na verdade eu estou Renascendo...vamos jogar?

- Éhhhhh, Radical....,vamos jogar , mas vê se para de renascer né Tio?

Pode?

domingo, 23 de novembro de 2008

7 Renascimento I

O Renascimento I.

Em nosso primeiro contato telefônico, ao nos despedirmos lhe perguntei seu nome e a senhora me respondeu: - Professora Alvacir. , foi quando eu comecei a lembrar...

Minha primeira Professora se chamava D.Lucia (me apaixonei por ela) , e lembro também da D. Neusa, professora de matemática, eu tinha quebrado a perna em um acidente, e como era final de ano e haviam provas finais, minha mãe me carregava nos braços por 2 Kilometros, até a escola.
Naquele ano, tirei boa nota em matemática, mas infelizmente nunca fui um aluno exemplar.
Venho de uma família até meio conturbada, Pai e Mãe se separando quando eu ainda tinha 7 anos....e outros problemas, mas não direciono a estes problemas os meus fracassos.
Quando eu tinha uns 17 anos, afoito pela liberdade de expressão e outras coisas que assolam a mente dos adolescentes me afastei dos estudos, e fui morar em um pensionato, e me pus a trabalhar com afinco na área em que até hoje atuo.
Tenho uma filha de 15 anos que mora com a mãe dela, de quem me separei.
Meu Pai faleceu..., Minha mãe faleceu em meus braços..., Minha única irmã, mora já a 10 anos na Itália.
Eu casei de novo , com minha adorável esposa que chamo de Morico.
Vamos fazer 20 anos de casados e passados estes anos de união, resolvi que pela minha esposa, que amo muito, pela minha mãe que me carregou nos braços, pela D. Neusa que me mostrou que matemática não é um bicho sem cabeças e pela paixão que tive pela professora Lucia...
Meu presente para estas pessoas será meu retorno aos estudos. E olhe que já tenho 65 anos, e portanto não sou mais um mocinho, e embora ainda tenha que ser chamado aos berros pela Morico nos finais de semana para vir para casa, e parar de brincar com as crianças da rua. Sim, eu voltarei a estudar, pois preciso dar exemplo para estas pessoas e até para os meus coleginhas da rua de que é possível SEMPRE., Mudar uma situação.

A maioria das crianças com quem brinco são crianças da rua, muitas também pararam de estudar, e eu pretendendo fazer as vezes de Serviço Social, comprei apetrechos de esporte ( Vôlei, Bets, Petecas etc), e então , nos finais de semana, tiro o pensamento delas da direção incerta sobre um futuro duvidoso de prosperidades inatingíveis, perante a situação em que suas famílias humildes vivem.

Um dos meus coleguinhas se chama Juninho, tem 12 anos, sua mãe que sofria da visão, agora ficou cega de vez.O Pai é pedreiro e gosta muito da “Mardita Cachaça” ., pessoa rude quando ébrio, e o Juninho muitas vezes pego chorando escondido em algum cantinho do barraco em que vivem, e , um dia o Juninho me confidenciou: Quando eu crescer eu quero ser igual ao senhor!, Não quero ser igual ao meu Pai!... e eu disse ao Juninho, que somente ELE poderia mudar uma situação, e que se uma situação precisa de mudança, ELE deveria mudar, e então tudo realmente mudaria....e ele me perguntou : COMO ??

Professora Alvacir., eu percebi, que não é só o Juninho que precisa mudar., e sim, que tudo neste mundo também precisa...a começar por mim. Eu voltarei a estudar, em respeito a todas as pessoas que me carregaram e todas aquelas que me fizeram carregar angústias de suas existências sofridas e chorosas, darei exemplo e levarei comigo, todas as crianças e pessoas que puder eu também carregar, assim como minha mãe fazia comigo., Irei até aí buscar meu pequeno Histórico Escolar...primeiro degrau de uma escada de anseios de muitos que como eu deveriam começar a escalar em busca de mudanças sérias e imprescindíveis em suas personalidades.

O seu empenho em me auxiliar, e sua abnegação em concretizar a tarefa foram louváveis, e merece de minha parte a eterna gratidão., Também pela sua pessoa e de todos os seus colegas da secretaria, voltarei a estudar e cristalizar as lágrimas de meu amigo Juninho, Lucias, Neusas, Mães e Pais, que como eu e o Juninho, merecem uma segunda chance.
Muito obrigado á senhora e a todos os seus, saiba que serei sempre seu eterno amigo.

Pode?

sábado, 15 de novembro de 2008

6 Virgem Maria.

Virgem Maria.

Tinha eu ainda, acho que uns 5 aninhos de idade, franzino e serelepe, passava meus dias brincando no quintal da nossa casa. Haviam muitas árvores, flores, pé de manga, goiaba, limão, banana, manga, e isso porque não posso ficar aqui só lembrando quantas e quais árvores haviam.

Não esqueço que nos fundos do quintal, bem onde acabava o terreno, existia uma parede muito alta, e eu podia ouvir o trililar de crianças brincando do outro lado, e volta e meia gritava aqui do meu lado- Oi......Oi – mas ninguém respondia, acho que não podiam me ouvir, tamanha a altura do paredão.

Um dia, eu e o Bob ( que era o meu cachorro companheiro de brincadeiras), estávamos lá no quintal fazendo nossos buracos, onde eu pensava que poderia achar quem sabe um diamante, ou então um poço de petróleo, ou melhor ainda, um tesouro escondido, ou dar de cara com um chinês ( que eu na realidade nem imaginava o que fosse isso).

Eis que derrepente, eu notei que existia um reflexo de luz na minha camisa (muito branca) e aquilo muito me surpreendeu e erguendo os olhos para a parede fui atingido em cheio pelo reflexo daquela alva luz.

Em desabalada carreira e ainda meio cego, corri pelo quintal, tropeçando em tocos, cacarecos, artefatos de jardinagem e um montão de coisas que eu mesmo havia para lá levado e gritava e chorava.

- Mamãe, mamãe, socorro...socorro, tô com medo, tô com medo.

E minha mãe, abrindo os braços me embalou carinhosamente, enxugou minhas lágrimas, e apertou bem forte, me erguendo pelos ombros, colocando no colo e perguntando : Filho o que houve?.

- Mãe, lá no quintal, tem uma luz , tão grande, tão grande, do tamanho da nossa casa...maior ainda, do tamanho do mundo inteiro, e eu quase fiquei cego só de olhar....eu tô com medo mamãe!

E ela, dando uma risada gostosa disse: Não se preocupe não meu filho, não precisa ter medo não, é só a Virgem Maria, iluminando seu caminho.

Pode?

domingo, 9 de novembro de 2008

5 Zé Mané & Estrupício.

Zé Mané e Estrupício.

Não sou unha de fome, mão de vaca , ou pior ainda , um perdulário, mas nunca gostei muito desses pedintes que andam pelas ruas nos abordando com estórias mirabolantes, que tentam justificar o porque ?, de estarem nos pedindo coisas, contudo, gostando ao não, todos nós passamos por isso no dia a dia.

Uma das estórias miraboantes que guardo em minha memória sobre estes pedintes, foi a de um rapaz muito bem vestido e asseado, de óculos e portando uma daquelas bolsas de faculdade que me abordou dizendo.

- Boa noite senhor, meu nome é José Paulo, e eu estou passando por um pequeno problema, acabo de sair da aula e um homem que acaba de virar a esquina me assaltou, levou meu relógio e minha carteira, e eu fiquei sem nada, sequer para ligar para minha casa, ou pegar um ônibus, o senhor poderia me ajudar de alguma forma?

E eu solícito, dei a ele algum dinheiro para o ônibus e cedi também um cartão de telefone público, ele me agradeceu e foi-se embora.

Dias depois passando pelo mesmo local, o mesmo rapaz e vestido da mesma forma, me abordou novamente, quando então percebi que se tratava de um golpe, e depois fiquei sabendo que o golpe tem até nome, trata-se do Mangueio, embora a definição do que realmente signifique a palavra, eu não me arvorei em pesquisar.

Independente deste episódio triste, lembro de outras duas abordagens que em parâmetro contrário achei muito peculiares. Uma delas quando estava eu em uma loja, destas de revelar fotografias e entrou um senhor, com um paletó meio amarrotado, cabelos bem penteados, sapatos engraxados, e que parecia muito distinto, e ao entrar ele na loja, disse em voz alta, chamando a atenção de todos:

- Senhores , peço a vossa atenção por apenas alguns instantes...Eu tenho ciência de que nenhuma responsabilidade voz cabe neste aspecto, porem , estou passando por uma situação muito difícil neste exato momento, e faltam-me recursos de Intendência e mesmo Subsistência, e dado a falta de trabalho, família e mesmo um Lar que me abrigue, sou levado a solicitar para: Aqueles que puderem me auxiliar, por gentileza que o façam agora e que estejam cientes de que, não poderei eu, devolver-lhes como empréstimo, mas desde já indico aquele que nunca me abandonou , e concluiu: Que Deus lhes pague – muito obrigado.

Todos que estavam na loja, olhando entre si, um a um entregaram ao homem alguns trocados, e ele com a mão estendida, colocava o dinheiro no bolso e repetia a cada um “ Que Deus lhe pague”.

Em outro caso fui abordado por um senhor literalmente embriagado e até um pouco cambaleante.

- Meu amigo, eu não vou lhe pedir dinheiro para comprar pão, comprar leite, tomar ônibus ou o raio que o parta...eu preciso de dinheiro para comprar UMA, DUAS , TRES ou quantas fazendas for possível comprar, que me façam esquecer as minhas mazelas. ( referia-se a caninha 3 Fazendas, Cachaça antiga, pelo jeito muito apreciada por ele)

Dei o dinheiro de bom grato..., pois queira ou não ele havia sido sincero e direto, e demais a mais, pelo visto UMA, DUAS, TRES ou mais fazendas, talvez não fossem suficientes para amenizar-lhe o coração sofrido.

Em outra situação eu estava em uma lanchonete comendo um salgado, quando um garotinho me puxando a manga da camisa disse:

-Tio..., tem alguma coisa pra dá?

-Tenho sim, puxão de orelha, serve?.

- É rui heim Tio!, tem outra coisa não?

-Tenho..., esculacho por você ficar aí na rua pedindo coisas..., tenho o endereço do Conselho Tutelar para levarem você para a escola..., tenho até mordida de cachorro louco vai querer?

- Radicaaaalll heim? Tio, mas não tem mais nada? , tipo um dinheiro?

- Tenho, tipo um dinheiro, mas não posso dar, mas tenho um tipo de uma vontade de dar uns cascudos na sua cabeça , pode ser?

- Tô fora ...aí ? não líbera então um tipo duma coxinha?

- Ok você me convenceu, libero um tipo duma coxinha, mas vê se pára de me chamar de Tio.

Pedi a coxinha e entreguei ao garoto, que mal pegou o salgadinho disse.

- Ta... deletado o Tio..., e então?, como quer que eu chame o senhor?

- Qualquer coisa, menos Tio.

- Legal, tchau...Zé Mané! E sumiu do mapa. Fugindo de mim o vadio, e eu fiquei lá berrando enquanto ele corria.

- Some daqui seu Estrupício....e ele já ia longe..


Pode?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

4 A Gorda.

A GORDA.

Foi chegando de mansinho, como quem não quer nada, e no começo parecia até uma pessoa normal, tipo gente boa, mas com o tempo passando, e as coisas acontecendo, ela foi colocando as manguinhas de fora.

- Eu não gosto de qualquer ordem, pedido, apoio ou algo assim, eu só ouço a voz do meu coração.- dizia ela.

Aí o pessoal foi começando a ver o tipo do Monstro que tínhamos entre nós, cantores de um coral.

A mulher ao cantar soltava a voz como se estivesse num curral de rodeio, trilava, gritava, guinchava feito um bode, e nos agudos então?, ela era fera., fazia tanto que algumas pessoas até se afastavam temendo algum ataque de animal raivoso,e outras ficavam por perto, pensando em acudir, caso fosse um ataque.

O pessoal apelidou a GORDA, de mulher bomba, isso porque ela se dizia descendente de libanezes, árabes e pessoal daquelas bandas etc., e até fazia aqueles grunhidos com a língua no céu da boca.....um horror.

Um dia, quando encenávamos uma ópera, todos em movimentação no palco e durante a apresentação de estréia, ela resolveu pura e simplesmente que iria cantar não a sua parte, e sim a parte da solista, que ela achava muito bonita, e que se auto classificava capaz, indiscutivelmente preparada, e que tinha certeza, tudo aquilo, havia sido feito só pra ela cantar.
E foi a GORDA.

- Tra lala lá...tra la la lá, uIIIIIIHHHHHHHHHHHHH,

E ficou assim uns 3 minutos e todos pararam olhando para aquilo boquiabertos quando então ela tombou no chão feito um botijão de gás, estremecendo tudo, e rolou quase até cair no fosso , em cima da orquestra, que por precaução , até já havia aberto um buraco no espaço entre todos para receber o pacote.

E não se dando por vencida, levantou e continuou :

- UIIIIIHHHHHHHHHH, agora com a mão no coração e olhando pra cima, compenetrada que estava com sua exibição.

Tantas fez que um holofote, desses grandes caiu do teto e quase atingiu a GORDA, e até hoje, não sabemos se caiu porque alguém tentava parar aquilo, ou se foi acidente mesmo..

Foi uma correria daquelas, gente gritando, músicos com seus violoncelos e contrabaixos sob a cabeça a quiçá de proteção quanto a outras quedas, mas a GORDA não parou.

- UIHHHHHHHHHHHH.

Nosso maestro, que não é conhecido pela sua calma ou complacência, não se conteve, atirou-se em cima da gorda, e acho que até vi a mão dele procurando a garganta da desgramada.

- UIIIIHHHHHHHHHH.

O público, que aliás não entendia nada de ópera, achava que tudo aquilo fazia parte do espetáculo e ficou quietinho, assistindo o que ocorria sem soltar um piuzinho sequer.

Então um dos cantores do coral, que era mais amigo da gorda gritou- NÃO., e também se atirou em cima dela gritando para o maestro: PARAAAAAAA

- UIIIIHHHHHHHH

E ou outros cantores: Chega....chega...para , chega...chega, para...chega. Os músicos da orquestra também fizeram coro: CHEGA, PARA, CHEGA, NÃO

O Pianista , que pelo jeito também era um pouco doido, tamborilava em cima do piano assistindo a tudo e rindo, por descuido empurrou a tampa do piano, que caindo fechando, fez um barulho incrível, fazendo com que todos parassem e olhassem para a frente com suas caras assustadas .

Neste exato momento, o assistente de palco fechou as cortinas...silêncio,,E então, como por encanto, ouviu-se algumas palmas, que foram aumentando, aumentando, aumentando, a ponto de que o assistente de palco, achou que na verdade tinha cometido um erro e que realmente, aquilo tudo fazia parte do espetáculo, e então abriu novamente as cortinas.

Com as pessoas ainda no palco, se refazendo do susto, ao se abrirem as cortinas, o instinto dos cantores e músicos, vendo a platéia em pé aplaudindo, foi realmente de agradecer, e então começaram a se curvar, e as palmas em cadência evoluíram para um BIS.

E a GORDA de novo : UIIIIHHHHHHH.

Pena que ninguém dessa vez conseguiu segurar o maestro, as mãos dele foram direto pra garganta da GORDA.

Pode?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

3 - Analista de Processos.

Analista de processos.

Senhor Analista de processos.

Conforme meu relatório já de seu conhecimento, informei que o nosso segurança enviado ao local, onde a loja foi furtada, chegou ainda na madrugada e encontrou o prédio arrombado e na seqüência, posteriormente, comunicou o fato a seus superiores e tomou as demais medidas e providências cabíveis que o caso exigia.

Independente das informações que fiz constantes do meu relatório, fiquei muito surpreso quando hoje recebi vosso e-mail questionando ( em suas palavras) “ Não consegui compreender o fato ! Peço informar de forma clara e objetiva, se quando o segurança chegou no local, os bandidos ainda lá estavam ?”.

Assim , acredito que se faz necessário responder:

Os bandidos que furtaram a loja, infelizmente não estavam mais no local, fato este que deixou o nosso segurança muito preocupado, abalado e desiludido , posto que pretendia ele, passar-lhes um verdadeiro sabonete, censura-los e proferir uma palestra educativa , sobre o ato e fato, sórdido e vil.

Tenho para mim que ele tenha até percorrido as imediações ainda na madrugada gritando: “Bandidos...Bandidos... Ei Vocês ainda estão aí?, Eu preciso falar com vocês ! Bandidos...Bandidos...”, mas pelo jeito a busca não teve resultado positivo , quem sabe fossem eles bandidos surdos!

Na verdade tenho cá minhas conjecturas sobre esses bandidos, acho que alem de profissionais da gazua e do pé de cabra e amigos do alheio, são ainda uns SEM EDUCAÇÃO, pois sequer um telefone de contato, ou mesmo um bilhetinho deixaram para o segurança, e que esta falta, ao meu ver, é tão significativa quanto o delito que cometeram.

Me permito ainda complementar , que este não é o primeiro caso que acontece desta forma, e que acredito, possa se tratar de uma quadrilha, ou o mesmo elemento, que deve estar praticando vários outros delitos por este Brasil afora, sempre com a mesma rotina : Não deixa telefone, recado, endereço...pelo que, alem de mau educado , deve ser ainda mau letrado, ou até mesmo analfabeto. (coitado).

Não pretendendo me alongar e fazendo cumprir a solicitação do senhor que dizia: De forma Clara e Objetiva...respondo:

O Bandido não estava mais no local , - Se evadiu – Escafedeu-se – Deu no Pira – Zarpou fora – Se mandou – Picou a mula – Sartou de banda – Azulou – Saiu de cena – Voou pra longe - - Teletransportou-se- Esvaiu-se feito fumaça, Záz ao raio que o parta , e ainda por cima foi embora.

Com destino a não sei onde , e como diziam os causídicos de antigamente: Indo parar em lugar incerto e não sabido, - muito possivelmente na Puta que o Pariu, que deve ser lá nos Quintos dos Infernos, local muito próximo de sua cidade natal prezado senhor Analista de Processos, e portanto, tenho certeza, o senhor deve saber muito bem onde fica, e sendo assim, peço-lhe a gentileza ( sem querer sobrecarregar seus muitos afazeres), de encontrar o referido bandido, e transmitir a ele estas minhas observações.

Atenciosamente...eu.

Pode?

domingo, 26 de outubro de 2008

2 - Noite Longa.

Noite longa.

O Alencar, não era um amiguinho que a minha mãe, ou ainda, as mães de outros amiguinhos meus aprovassem, ele matava aulas, dizia palavrões o tempo todo, era bringuento, mal arrumado , sujo, e com certeza, não era classificado pelo batalhão das mães de perto da nossa casa, como um bom exemplo, pois até tatu do nariz ele comia, sem qualquer preocupação se estivessem ou não olhando...enfim, ele era um desastre de criatura, ou seja um abominável..
A minha mãe era muito exigente, e para eu sair de casa nem que fosse pra fazer xixi, tinha que pedir permissão, dizer onde ia, o que pretendia fazer, com quem iria, quando retornaria, e mais um carretel de questionamentos que só de pensar, eu desistia do intento e então deixava pra lá.
Um dia , eu brincando em frente ao portão da minha casa, despreocupado e entretido em carregar meu caminhão basculante com terra, para descarregar numa construção imaginária, onde eu era o motorista, engenheiro, pedreiro e tudo o mais, o Alencar passou e parou na gente do portão e me convidou para que fossemos brincar de bola em um campinho nas vizinhanças, e eu lhe disse, que iria perguntar para a minha mãe se ela deixava eu ir, mas já fui adiantando que possivelmente ela não deixasse, e ele então falou
- Então não pergunte a ela e quando voltarmos você diz que foi e se ela disser “ Não” daí não vai adiantar mais nada!
Eu analisei o que ele disse, e após algum tempo, andando de lá pra cá, com os braços cruzados, em atitude de pessoa que está pensando...cheguei a brilhante conclusão de que o Alencar , era um garoto mais inteligente e esperto do que todo mundo imaginava, pois ele tinha em poucas palavras sintetizado a resposta a todas as angústias que eu e alguns dos nossos coleginhas tínhamos em nossas almas., e gritando meu brado de guerra com o punho fechado olhando para o céu , disse: Iahhhh, de alegria, e saí correndo com ele rumo ao dito campinho, e claro, sem avisar a minha mãe.
Ao final da tarde, quando já estava começando a escurecer, voltávamos para casa, num grupo ainda maior, formado por outros também “Espertos” , que foram por nós escalados e arrebanhados quando da ida, sob a mesma ótica (depois é só dizer que foi...), porem um a um, conforme nos aproximávamos de cada casa, eles eram arrastados para dentro , muitos puxados pela orelha, pelas calças, pelos cabelos, aos gritos e ralhações das suas mães evidentemente desesperadas com seus filhos desobedientes, e muitas delas possessas, com olhos vermelhos esbugalhados, cabelos em pé, rugindo aos berros como dragões cuspindo fogo pelas ventas.
- XIII, será que minha mãe vai brigar comigo? – perguntei eu.
- Sei lá! A minha não vai porque eu avisei ! disse o canalha.
- Pôxa Alencar, porque você não me avisou ? gritei com ele.
- Não tenho que avisar nada pra você...você não é a minha mãe, oras!.
Foi uma noite longa....muito longa e dolorida.

Pode?