Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




domingo, 30 de novembro de 2008

9 Memória confusa.

Memória confusa.

Memória Confusa

Fui criado praticamente só por mulheres, pois meu pai e minha mãe se separaram quando eu ainda era bem novo, e portanto as mulheres é quem me criaram , para a vida e para tudo. Minha mãe, minha irmã, Tia Nelma (a viúva). Minhas primas Rosa, Rose e Margarida , que são filhas da Tia Nelma, minha avó (também viúva) e a Maria, nossa governanta e defensora nas brigas da escola e nos entreveros com garotos de rua, ou, irmãos de meninas que moravam próximos a nossa casa, alguns destes coleguinhas da escola.

A Maria era tão defensora que os garotos da minha escola dela tinham verdadeiro pavor e fugiam assustados, ou então davam voltas e voltas á pé, para não lhe cruzar o caminho, porque ela batia mesmo, e não queria nem saber. Se eu chegasse em casa com marcas de haver sido agredido por qualquer um deles , ela me pegava pela mão e saia comigo pela ruas, pedindo só pra eu apontar quem seria o agressor e então, dá-lhe cascudo no agressor malvado, que havia batido em seu xodó.

Óbvio que por conviver só com mulheres, eu detinha do estereotipo feminino algumas características de educação e de comportamento peculiares, diferentemente dos demais garotos da rua ou da escola. Falava de forma mais pausada, não gritava, muito raramente falava palavrões, não dava socos ou pontapés, era gentil e asseado e á mesa então praticava todos os rapapés, até comer com livro embaixo do braço me faziam treinar para que não ficasse com as asas sob a mesa, enfim perto daques outros coisos eu era um gentleman ( a Maria que obrigava a parecer com um).

Tudo isso não seria problema algum, não fosse o fascínio que as meninas “Todas” , tinham por mim e pelo meu jeito de ser. Me procuravam para conversar na escola, em casa, me abordavam durante o recreio e eu vivia portanto cercado de meninas, o que causava intrigas dos demais e despertava a ira e ciúmes dos irmãos destas.

Elas me contavam seus segredos, pediam minha opinião sobre alguma roupa ou penteado, me mostravam seus diários (onde inclusive , ás vezes, eu encontrava alguma menção carinhosa a meu respeito) , me contavam as proezas e peripécias com que haviam resolvido algum problema, e eu até, dei conselhos e instrui de alguma forma sobre, maquiagem, perfume (que faziam questão de estendendo o pescoço, me pedir para cheirar e aprovar), menstruação e uma infinidade mais voltada ao universo feminino, porque para mim , estes assuntos eram próximos e praticamente corriqueiros.

Na minha rua, todos os dias ao final da tarde, as crianças saiam a brincar espevitadas, os garotos brincando de bandido ou mocinho, lutas de gigantes, futebol de pelada, bola de gude com birosca, soltando pipas e coisas assim, e as meninas de bate palma, amarelinha, passa anel com direito a beijinho no rosto como prenda de castigo, pula elástico ou pega esconde, quando atrás das várias árvores que se perfilavam nas calçadas, ou nos jardins imensos de algumas casas, eu e as meninas nos escondíamos.

As casas eram todas diferentes umas das outras, e as brincadeiras se estendiam pela tarde e início do anoitecer, mas existiam duas casas abandonadas, onde os meninos raramente iam com medo de fantasmas, ladrões, almas penadas e outras temeridades da imaginação fértil , mas na nossa brincadeira de pega esconde que eu participava com as meninas , estas casas eram o esconderijo preferido.

Foi em uma destas casas que experimentei o meu primeiro beijo roubado, o primeiro roçar de mãos sobre um seio, o primeiro aperto de mãos suadas excitantes e onde num lugar secreto , deixava meus poemas apaixonados enrolados em bilhetinhos para algumas delas. Juras de amor infinito, rimas que exaltavam o carinho que eu tinha, as sensações e ansiedade para o próximo encontro, recados feitos em folhas arrancadas do caderno, que ficavam dobradinhos escondidos debaixo de um tijolo ou de uma pedra, que só eu e a minha cúmplice, sabíamos onde ficava por combinação anterior, que havia sido sussurrada no ouvido, durante alguma brincadeira de pega esconde ou no beijinho do passa anel.

Bons tempos é claro, porem, passados já quase meio século, a idade atrapalha, e a memória confusa distorce muitas lembranças e então, infelizmente, percebo eu , que da rua, das árvores, das casas, dos poemas, tenho certeza, não lembro quase nada, mas das meninas.....Ahhhhh as meninas.

Pode?