Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




terça-feira, 18 de agosto de 2009

31 PINA COLADA

Pina Colada

Ao final de uma tarde de sol (muito rara em Curitiba) é naturalmente natural que ecologicamente á pé, eu faça uma caminhada levando meu corpo sofrido até o Bar do Cassemiro ( já falei dele aqui mesmo) e então abasteço o meu espírito com doses homeopáticas de relaxantes musculares e desestressantes á base de cevada, cana de açúcar e outros ingredientes , muito embora manipulados pela espécie humana ( o que também não deixa de ser tambem naturalmente natural).

Como ia dizendo..., eu ia seguindo por aqueles caminhos antigos da rua Riachuelo, lojinhas de Árabes, Bazares, Relojoarias, Casa de Troféus, Babacarias etc, e atento ao movimento não me dei conta quando tropecei em uma daquelas pedras (paralelepípedos) que ladrilham a rua São Francisco e então tomei um supetão...não cheguei a rolar pelo chão, mas fiquei praticamente de joelhos no solo pátrio.

Ao recuperar e levantar-me fiquei surpreendido por me ver na esquina de uma rua desconhecida até então, e que fica bem ali mesmo...na mesma esquina da rua São Francisco com rua Riachuelo...coisa estranha pensei, uma bifurcação alí naquele local que eu nunca havia percebido.

Sabe quando nós quebramos um espelho e o vidro fica quebrado ?... e então temos a impressão de que a imagem fica num paralelo?..., quando nos deslocamos a imagem novamente se reenquadra?..., pois era bem isso mesmo, está rua fica num paralelo difícil de explicar, mas que existe , existe.

Eu fui entrando rua adentro., não muito diferente da São Francisco...outras lojinhas, troféus, loja de carimbos, restaurantes, mas uma portinha me chamou a atenção, tinha uma pequena vitrine com cortina vermelho xadres meio transparente e uma porta em madeira com um grande vidro emoldurando, e eu para poder enxergar o interior sem que o reflexo do sol obstruísse a visão coloquei as mãos no vidro e encostei minha cabeça pra frente pra ver melhor e então fiquei realmente surpreendido!

- Não acredito...é o Piccolo Americam Bar do meu amigo Giacomo?...igualzinho aquele que ele tinha em londrina nos anos 70?

Foi quando a porta se abriu e de dentro dela me saldou meu amigo Giacomo, com um grande sorriso e abraço e já me puxando para dentro.

- Grande amigo Rodolpho, até que enfim apareceu por aqui, pensei que não viria nunca me visitar!

-Giacomo?...é você Giacomo? – como pode ser?, você ?! Aqui neste lugar, e este bar? Eu não estou acreditando amigo, o que está acontecendo?

-Não está acontecendo nada amici mio, soli io mesmo, em carne e osso, ( me dava um abraço forte), entrate, vámo, tu é buona gente, bravo, éco, bravo! Entrate, vamo, vamo!

O Giacomo é um industrial italiano que viaja muito para outros países á trabalho, e então como não encontra um lugar decente para desestressar, acaba montando um barzinho nas cidades que tem que visitar mais frequentemente em inúmeros países pelo mundo afora, e todos com o mesmo nome: Piccolo, American Bar – uma graça de lugar.

Mal eu entrei no bar , de dentro do balcão me aparece a Luzia ( uma linda morena brasileira de Londrina que o Giácomo levou pra Roma e por lá ela ficou, nunca mais retornando) e de pronto ela gritou!

- Seu Rodolpho...que saudade, bom ver o Sr. por aqui...já vou preparar seu drink preferido, Giácomo, venha me ajudar pra que eu não esqueça nada!

- Va bene -disse ele- Io vou preparar especialmente, fique á vontade amici, seja bem vindo!

E assim eu fiquei por lá, verdadeiramente abestalhado com aquele lugar.

Haviam umas quatro mesinhas redondas com duas cadeiras cada uma, ornadas por pequena toalha de renda branco alvo e no centro de cada mesa um pequeno vasinho com um cacto ornado com pedrinhas brancas á volta.

Nas paredes alguns posters de cidades italianas, castelos medievais, coliseu, vaticano, jardins etc, e de dentro era possível ver o movimento da rua através da vitrine com os passantes atarefados na correria do dia a dia.

O balcão era pequeno e todo branco (também alvo), com quatro banquinhos redondos fixos com apoio para os pés em metal dourado desses de girar, e eu até sentei e girei um pouco para recordar os tempos passados.

Na parede de dentro do balcão os estojos onde ficavam as frutas em seus escaninhos específicos, bananas, maças, mamão, uvas, laranjas e depois a portinha também em vidro que dava para a área interna de serviços do bar e de fundo musical: Volllllare..ohhhh ohhhh, cantare...oh oh oh oh...

O Giácomo faz um drink muito interessante que leva sorvete de creme, morango e pistache, uma notinha de Rum Montilla e salada de frutas que é um espetáculo impar e vem com uma pequena sombrinha de madeira em papel de seda chinês com aqueles desenhos multicoloridos enfeitando tudo e pequeno pedaço de abacaxi e rodela de limão encravado em um espetinho para mexer a bebida, uma delícia!

- Taí – disse a Luzia retonando com a bebida – sua Pina Colada, do jeitinho que o senhor gosta, nem muito côco nem muito doce e duas gotinhas de angustura!

Confesso que tive até vontade de chorar quando vi aquele meu Drink, reluzente e charmoso numa taça impecável sob um porta copos também especial!

- Bravo Luzia, Bravo Giácomo – salute Amici – e já ia levar a taça a boca e beber quando a Luzia falou.

- Melhor o sr. lavar as mãos primeiro, afinal a gripe está á solta – já me apontando a porta do banheiro e lavatório.

Eu saltei imediatamente do meu banquinho e fui direto pro lavatório, pequena pia com uma torneira enorme, dessas de antigamente ( o Giácomo se não me engano me disse á muito tempo que furtava as torneiras de uma fonte antiga da cidade de Roma, para melhor enfeitar seus bares), e pendurada muito jeitosamente, uma toalhinha de mão bordada com o nome: "Piccolo" American Bar.

Lavei as mãos e depois o rosto, e me olhando no espelho ( em formato de gota de água), sorria feliz ante o momento inusitado de poder novamente provar meu drink favorito naquele lugar especial, e então abri a porta para voltar ao bar.

Mal abri a porta senti uma lufada de vento que me enregelou os ossos, e um tecido como cortina no meu rosto que tive que afastar para me dar passagem, quando então vi uma enfermeira gigante me segurando pelo ombros e dizendo.

- Calma seu Rodolpho... o senhor vai ficar bem, foi só um susto!

- Como só um susto?, como ficar bem? – Giácomo, Giácomo – eu gritei – Luzia, Luzia!

- Calma ( dizia a gigante ainda me segurando pelos ombros)...foi só um princípio de enfarte, mas já passou e seus parentes logo logo estão chegando aí!

- Que parentes que nada...cadê? cadê? ( mamamia ) gritava eu!

- Seus parentes já chegam...

- Não quero parente nenhum sua brutamontes , me solta, cadê minha Pina Colada?

E ela sem entender nécas de pitiribiba perguntava: Pina o que?

Pode?