Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




segunda-feira, 18 de maio de 2009

29 Corpo de Baile 1

Corpo de Baile 1

-Tá cum tu ?

-Num tá!

-Tá cum tu?

-Num tá!

-Tá cum tu?

-Tá não!

-Diachu, cum quem qui tá intão? Quim dos infer!

Ele já tinha perdido bem uns quinze minutos procurando e perguntando para todos, e todos enfileirados no corredor comendo suas marmitas, tomando seus refrigerantes compartilhando aquelas garrafas de 2 litros que eram passadas de mão em mão, e tomada a goladas, direto da garrafa sem usar copos (eu até ofereci mas me disseram: Num percisa não seu Dotô, nóis gosta de ãssim mermo, no bico qui desce mais gostosu).
Então coçando a cabeça em atitude de quem está pensando ele olhou pra cima e gritou lá pra laje!

-Chicão.....O Chicão seu peste!

-Fala seu fi du’a égua!

-Ta cum tu a Marquita do zóinho?

-Tô cum Marmita de ninguém não seu miséra!

-Num é Marmita não disgrama...a Marquita do zóinho seu froxo!

-Nun sei de Marmita e nem de Marquita e nem de Zóinho ninum aquim cima , vê se acha outro pra abestaiá!

- Orra gente inhorante, fóda de trabaiá, vai se fudê intão bódão do carái....

Essa era a rotina na obra, o dia inteiro, um tal de Bódão, gritando com Chicão, com Zóinho, com Parafuso e o escambau e chefiando a todos ?: Zé do Brejo! (que eles chamavam de gato).

Olha eu de novo rodeado de gente do Zé do Brejo, que levou aquela turma toda lá pra minha casa para fazer a minha laje que iria aumentar um pouco a construção nos fundos.

- E então seu Zé do brejo, dá pra fazer a minha laje?

-Mas seu Doto, pá nóis é facim facim...em dois tempu nóis tremina...

-Sei...(eu coçando a cabeça)..lizim lizim....olha lá hein seu Zé!

-Pó dexá cum nóis que ieu areúno os Profissionar, só gente de Catinguria e manda vê!

-Olha lá hein ??,. Tem que ficar pronto em uma semana...nem mais um dia.

-Demorô! , qui ieu demoro mais que treis dia pra fazê uma lajizinha assim desse tamanin? Pó botá fé...si im treis dia num tivé pronto o Doto pó corta meu saco!

E foi assim que eu entrei nessa de novo....Treis dia....pó cortá meu saco...facim facim.

Primeiro dia, não eram nem seis horas da manhã chegou seu Zé com o tal Divino!

- Esse aqui é o Divino, home bão di Laje, né mês Divino?

- Pois qui seu Zé intende mermo, vamos alevantá essa lajizinha em dois tempu, á se vâmo!

E assim foi aparecendo durante o dia todo: Socó , Beleleu, Lindomar, Jaci, Tião, Chesca , Raio Vac , Mandioca (especialista em ferragens que ele chamava : Os ferro) – Beronha e Pitu, alem dos outros que já citei.

A equipe para construção da minha laje então estava formada...verdadeiro Corpo de Baile de mascarás encenando O INFERNO de Rodolpho.

Minha esposa quando viu a turma toda sentenciou: -Vou pra casa da minha mãe (com cara de zangada), quando estiver tudo pronto E LIMPO, eu volto...só você mesmo, sempre me aprontando!

Eu fiquei meio confuso com o comentario dela, mas nem deu tempo de retrucar porque ela saiu xispando dali, levou até os dois cachorrinhos pincher....já vai tarde (eu pensando), mulher em obra só atrapalha mesmo.

E não é que o pessoal sabia trabalhar mesmo?, ao final do primeiro dia já haviam estruturas de madeiras e caixarias e colunas de ferros e um cem número de coisas feitas?

Já no segundo dia faltaram dois trabalhadores e seu Zé do Brejo justificou: Strépi no Dedão e Dor na Cacunda (claro), mas queira ou não a obra estava andando e eu pensando comigo: Quando ela voltar não vai nem acreditar que já esta pronto, aí eu quero ver ela engolir e pedir desculpa!

A frente da casa virou depósito de material de construção, Tijolos – Cimentos – Madeiras – Pedra - Areia , Caçamba de lixo, crianças brincando na areia, cachorro fazendo cocô na pedra, chega e sai de caminhão, fundo musical do meu Balé, faz parte.

Derrepente um corre corre, e todos os homens saindo da obra e indo pra frente da casa e barulho de caminhão chegando fazendo alvoroço.

-Chegô gente, vãmo lá ajudá!, vãmo, vãmo...êh maravilha! Agora ieu senti sustança no negóço, é já que a gente tremina essa laje.

Eu fiquei curioso , porque parecia que estavam muito alegres, contentes como criança quando vai ganhar presente e acorriam para lá em passos firmes e decididos, não me aguentei e fui ver o que era, encontrando seu Zé sendo parabenizado pelos amigos.

Na frente da casa um caminhão velho caindo aos pedaços, todo meio torno por uma carga pesada que pendia pra um lado, soltava uma fumaceira dos diabos e fazia um barulho tão estrondoso que tive que gritar para que seu Zé me ouvisse.

- Seu Zé...seu Zé.., o que está acontecendo?

- O Sr. já vai vê...num sabe não?

-Não (eu coçando a cabeça)

E então descarregaram um volume imenso envolto com lona preta e que era bastante pesado pois foram necessários vários homens para descer do caminhão e então como que suportado em um andor foi intronizado pelo meu quintal adentro carregado pelos ombros dos pedreiros seguidos por uma verdadeira romaria e colocado próximo a obra, e tão logo chegou ao chão eles começaram a desembrulhar a traquitana, seu Zé foi até o embrulho e me puxando pelo braço arrancou de uma só vez a lona preta e me apresentou orgulhoso.

- Seu Dotô...essa é a Bitornera.

Pode?