Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Novo Psicólogo de plantão.

Novo Psicólogo de plantão!

Meu amigo mais doido é um psicólogo, pode uma coisa dessas ?, e o pior é que ele por ser psicólogo, analisa a si mesmo como um caso bem complicado, e chega até a explicar de forma técnica ou digamos, profissional , o conceito que faz de seu caso e até comentários e conselhos que dá a si mesmo, e que na maioria das vezes sequer segue.

Claudião é um tipo de psicólogo diferente, formou-se já a uns 15 anos mas nunca atuou na área, alegando que não havia passado num tipo de provão que fazem para psicólogos e que desde aquela época, passados 15 anos estava se preparando (curando), e na semana passada deu até uma festa, para comemorar a cura do seu mais antigo e novo paciente/cliente – ele mesmo.

Andava sempre como se fosse um tipo andrógeno, Cabelos compridos, Barba por fazer, Camiseta do Iron Maidem ou Pink Froid, Coturno, e acho que uma vez vi até um brinco gigante daqueles tipo argolão emoldurando uma orelha invisível, dado a cabeleira até o meio das costas, mas sempre foi , independente da aparência externa, um cara gente boa, literato, adorador de óperas e do compositor Wagner, que classifica como não o Pai, e sim, o espermatozóide que deu origem a música clássica de boa qualidade.

Quando o encontrei, ontem, ele estava bastante diferente, Camiseta por baixo de uma camisa social branca, Pulôver azul marinho e ainda uma blusinha de lã muito comportada, Cabelos com corte clássico bem baixinho, Barba feita, Sapato mocassim, e quando me comprimentou apertando a mão, quase não o reconheci, pois sempre batia nas costas e fazia aqueles salamaleques estranhos com punhos fechados, palminhas e outras coisas típicas da modernidade dos roqueiros e punks de plantão.

Conversa vai, conversa vem, disse ele que na realidade eu não estava mais falando com ele, o Claudião, e sim com o Dr. Cláudio , psicólogo, atuante a 2 dias, mas com mais horas de vôo que o Comandante Ferraz, ou o Dick Vigarista do desenho do Mutley, e me apresentando um cartão de visitas muito bem elaborado, disse, : Se precisar de Mim é só me procurar.

E não é que dia destes eu o vi num programa de televisão fazendo análise comportamental de artistas ou algo assim?

Pelo jeito já se deu bem, afinal nesse mundo só tem doido mesmo!

Pode?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Tonhão

Tonhão

Trabalhava como Artesão na feira da cidade, fazia bolsas, sacolas e outros culotes.
Ao voltar para casa num bairro de periferia, sempre parava no Bar do Brother's, e por lá ficava até que a sede saciada e trocados minguados o informavam que estava na hora de ir pra casa.
Saia cambaleante, sorridente , e se estivesse ainda claro , até conversava com os pássaros e cães vadios, que fazendo as vezes de amigos, lhe indicavam o caminho correto.
Essa éra a rotina básica do Tonhão, por vezes Toninho.., o Pai o chamava de Tico, e a mãe Tiquinho, pois éra mais baixo ( diziam as más linguas), que cú de cobra.
Casa simples porem perfeita, éra toda cercada de muro alto, e várias outras casas na mesma quadra.
A rotina do lugar era calma e os vizinhos todos muito solidários.
Morar em bairro tinha suas vantagens e desvantagens, todos os dias uma legião de caricaturas se fazia presente, muitas vezes de carro com alto falante no último volume, alguns maloqueiros nas esquina, de noite, fumando maconha, arruaça com o som ligado..alguns gritos na madrugada.
Uma noite ele voltando pra casa deu de cara com aqueles baderneiros e cambaleante sem querer esbarrou em um deles que tão logo foi empurrado pregou-lhe um chute bem forte. Depois disso ele não lembrou mais de nada, acordou em casa sendo cuidado pela esposa, dois dentes ( da frente) quebrados e alguns cortes.
Daquele dia em diante fez uma promessa a si mesmo - Deixe estar um dia eu me vingo! Parou de beber com medo de voltar pra casa e passar pela mesma situação e não poder revidar e começou a fazer exercícios com aparelhos que inventou no quintal e tantas fez que realmente ficou forte e musculoso.

Numa noite voltando novamente pra casa deu de cara com os maloqueiros e pensou: É hoje! – e quando ia passando esbarrou de propósito no mesmo pilantra que o chutou no passado e já ia levar outro chute quando sacou uma arma e Bam...deu um tiro no próprio pé e ainda por cima recebeu outro chutasso e só acordou novamente em casa sendo cuidado pela esposa, o tiro no pé tinha sido de raspão mas o chute foi feio.

Triste e amuado, porque haviam ainda por cima tomado seu revolver falou bem alto.

Volto a beber e paro de fazer exercício, pelo menos eu saio do prejuízo!

É...não tem jeito mesmo!

Pode?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Coisa de pescador

Isca ArtificiAR

Esse causo acunteceu mais com o ZÉ do que cumigo, que de pesca mermo só sei fazê se fo cum isca de verdade, pode ser minhoca, musquito e inté com macarrãozinho ieu gosto! ( se sobrá a gente cóme, que se o peixe gosta intão deve sê bom pra cumê (menos minhoca né?).

Mais como ieu tava dizeno, a gente combinô que ia pescá lá pras banda do tibagi, num barquinhu novinho em fôia, qui u zé ganhô no Concurso de história di pescadô.

E fumo...

Preparamo tudo no barco e parãmo bem no meio du rio que tava Cármo feito piscina e intão ieu comecei a caçá as minha minhoca di drentu du saquinhu quando o Zé oiô pra mim e disse:

- Sê Besta Tonho?, rá varianu das idéia?, inda tá usano essas minhoca melequenta?...olha só a novidade de tecnologia que ieu tô usãno!(e balangava um trócinhu pra mim).

E então ele me mostrô um pernilonguinhu di prástico, todo pintadinhu...parecia de verdade mermo e tão bunitinhu que inté ieu fiquei cum vontade de mastigá o bichinho ( cá pra nóis não dexô passá uma tampa de caneta sem mordê).

intão eu disse prê le.

- Legal esse prástiquinho aí, mas será? que ingana os peixe?

- Ingana Hóme!!! mais um poco e ingana inté nóis miséra! (disse o Zé).

Inquanto o Zé ia falãno ieu ia caçano as minha minhoca no saquinho..., foi quando o pernilonguinhu do Zé sem querer acabou cainho da mão do Zé e foi prá água e ficou boiano...

O Zé mais que ligeru passô a mão imcuia e pegou o bichinho.

Mal ele pegô o perninlonguinho um peixão enorme sartô pra drentu do barco ninguem vai crerditá...i tão grande qui nóis com o susto sartemo fora do barco..., não por medo, mais por receio...

Só pra treminá..., oiá, o bicho era tão grande o baita que se ieu contá que o barco virou mermo!...ninguem vai creditá..., perdimo de pegá o bicho pruque ele se escafedeu de nóius adispois que caiu na água, mais é verdade mermo.

Foi isso que acunteceu, pode inté disconfiá dimim mais ieu cuntinuo pescano com as minha minhoca mermo, que ãssim pelo menos ieu num perco barco.(tadinho do coitado do Zè, ficou á pé, ieu tumem).

É sim!


Pode?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

31 PINA COLADA

Pina Colada

Ao final de uma tarde de sol (muito rara em Curitiba) é naturalmente natural que ecologicamente á pé, eu faça uma caminhada levando meu corpo sofrido até o Bar do Cassemiro ( já falei dele aqui mesmo) e então abasteço o meu espírito com doses homeopáticas de relaxantes musculares e desestressantes á base de cevada, cana de açúcar e outros ingredientes , muito embora manipulados pela espécie humana ( o que também não deixa de ser tambem naturalmente natural).

Como ia dizendo..., eu ia seguindo por aqueles caminhos antigos da rua Riachuelo, lojinhas de Árabes, Bazares, Relojoarias, Casa de Troféus, Babacarias etc, e atento ao movimento não me dei conta quando tropecei em uma daquelas pedras (paralelepípedos) que ladrilham a rua São Francisco e então tomei um supetão...não cheguei a rolar pelo chão, mas fiquei praticamente de joelhos no solo pátrio.

Ao recuperar e levantar-me fiquei surpreendido por me ver na esquina de uma rua desconhecida até então, e que fica bem ali mesmo...na mesma esquina da rua São Francisco com rua Riachuelo...coisa estranha pensei, uma bifurcação alí naquele local que eu nunca havia percebido.

Sabe quando nós quebramos um espelho e o vidro fica quebrado ?... e então temos a impressão de que a imagem fica num paralelo?..., quando nos deslocamos a imagem novamente se reenquadra?..., pois era bem isso mesmo, está rua fica num paralelo difícil de explicar, mas que existe , existe.

Eu fui entrando rua adentro., não muito diferente da São Francisco...outras lojinhas, troféus, loja de carimbos, restaurantes, mas uma portinha me chamou a atenção, tinha uma pequena vitrine com cortina vermelho xadres meio transparente e uma porta em madeira com um grande vidro emoldurando, e eu para poder enxergar o interior sem que o reflexo do sol obstruísse a visão coloquei as mãos no vidro e encostei minha cabeça pra frente pra ver melhor e então fiquei realmente surpreendido!

- Não acredito...é o Piccolo Americam Bar do meu amigo Giacomo?...igualzinho aquele que ele tinha em londrina nos anos 70?

Foi quando a porta se abriu e de dentro dela me saldou meu amigo Giacomo, com um grande sorriso e abraço e já me puxando para dentro.

- Grande amigo Rodolpho, até que enfim apareceu por aqui, pensei que não viria nunca me visitar!

-Giacomo?...é você Giacomo? – como pode ser?, você ?! Aqui neste lugar, e este bar? Eu não estou acreditando amigo, o que está acontecendo?

-Não está acontecendo nada amici mio, soli io mesmo, em carne e osso, ( me dava um abraço forte), entrate, vámo, tu é buona gente, bravo, éco, bravo! Entrate, vamo, vamo!

O Giacomo é um industrial italiano que viaja muito para outros países á trabalho, e então como não encontra um lugar decente para desestressar, acaba montando um barzinho nas cidades que tem que visitar mais frequentemente em inúmeros países pelo mundo afora, e todos com o mesmo nome: Piccolo, American Bar – uma graça de lugar.

Mal eu entrei no bar , de dentro do balcão me aparece a Luzia ( uma linda morena brasileira de Londrina que o Giácomo levou pra Roma e por lá ela ficou, nunca mais retornando) e de pronto ela gritou!

- Seu Rodolpho...que saudade, bom ver o Sr. por aqui...já vou preparar seu drink preferido, Giácomo, venha me ajudar pra que eu não esqueça nada!

- Va bene -disse ele- Io vou preparar especialmente, fique á vontade amici, seja bem vindo!

E assim eu fiquei por lá, verdadeiramente abestalhado com aquele lugar.

Haviam umas quatro mesinhas redondas com duas cadeiras cada uma, ornadas por pequena toalha de renda branco alvo e no centro de cada mesa um pequeno vasinho com um cacto ornado com pedrinhas brancas á volta.

Nas paredes alguns posters de cidades italianas, castelos medievais, coliseu, vaticano, jardins etc, e de dentro era possível ver o movimento da rua através da vitrine com os passantes atarefados na correria do dia a dia.

O balcão era pequeno e todo branco (também alvo), com quatro banquinhos redondos fixos com apoio para os pés em metal dourado desses de girar, e eu até sentei e girei um pouco para recordar os tempos passados.

Na parede de dentro do balcão os estojos onde ficavam as frutas em seus escaninhos específicos, bananas, maças, mamão, uvas, laranjas e depois a portinha também em vidro que dava para a área interna de serviços do bar e de fundo musical: Volllllare..ohhhh ohhhh, cantare...oh oh oh oh...

O Giácomo faz um drink muito interessante que leva sorvete de creme, morango e pistache, uma notinha de Rum Montilla e salada de frutas que é um espetáculo impar e vem com uma pequena sombrinha de madeira em papel de seda chinês com aqueles desenhos multicoloridos enfeitando tudo e pequeno pedaço de abacaxi e rodela de limão encravado em um espetinho para mexer a bebida, uma delícia!

- Taí – disse a Luzia retonando com a bebida – sua Pina Colada, do jeitinho que o senhor gosta, nem muito côco nem muito doce e duas gotinhas de angustura!

Confesso que tive até vontade de chorar quando vi aquele meu Drink, reluzente e charmoso numa taça impecável sob um porta copos também especial!

- Bravo Luzia, Bravo Giácomo – salute Amici – e já ia levar a taça a boca e beber quando a Luzia falou.

- Melhor o sr. lavar as mãos primeiro, afinal a gripe está á solta – já me apontando a porta do banheiro e lavatório.

Eu saltei imediatamente do meu banquinho e fui direto pro lavatório, pequena pia com uma torneira enorme, dessas de antigamente ( o Giácomo se não me engano me disse á muito tempo que furtava as torneiras de uma fonte antiga da cidade de Roma, para melhor enfeitar seus bares), e pendurada muito jeitosamente, uma toalhinha de mão bordada com o nome: "Piccolo" American Bar.

Lavei as mãos e depois o rosto, e me olhando no espelho ( em formato de gota de água), sorria feliz ante o momento inusitado de poder novamente provar meu drink favorito naquele lugar especial, e então abri a porta para voltar ao bar.

Mal abri a porta senti uma lufada de vento que me enregelou os ossos, e um tecido como cortina no meu rosto que tive que afastar para me dar passagem, quando então vi uma enfermeira gigante me segurando pelo ombros e dizendo.

- Calma seu Rodolpho... o senhor vai ficar bem, foi só um susto!

- Como só um susto?, como ficar bem? – Giácomo, Giácomo – eu gritei – Luzia, Luzia!

- Calma ( dizia a gigante ainda me segurando pelos ombros)...foi só um princípio de enfarte, mas já passou e seus parentes logo logo estão chegando aí!

- Que parentes que nada...cadê? cadê? ( mamamia ) gritava eu!

- Seus parentes já chegam...

- Não quero parente nenhum sua brutamontes , me solta, cadê minha Pina Colada?

E ela sem entender nécas de pitiribiba perguntava: Pina o que?

Pode?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

30 - Corpo de Baile 2 - Final da Laje.

Corpo de Baile 2 - Final da laje.

-Chicão....oh Chicão, bota pá drentu Chicão!

-Pó dexá queu!

-Beleleu, óia o bárde.

-Intão manda a água fi d'ua puta.

-Oh Zé do Brejo, tu ta contanu?, gá dos infer.

-Arre que já subiu 32!

-Pitú seu miséra, tu não tá trabaianu dereito não hóme, manda o bárde!

-Pois intão manda a água fi du’a égua, to divagá pruque distraí um denti, dói tanto qui to té inxergano meio truvo.

-Ixi que isso ta uma impidimia, onti ieu tumem distraí e num foi só um não foi é dois e um éra cisne!

-Ê, i ninguem ainda viu a marquita do Zóinho?

-Ninguém viu, sumiu a disgramada, acho que foi o divino qui levo pra casa dele por inganu!

-Aduvido seu Zé qui foi inganu, aquilo só pega no que é dele na hora de mijá!

-E oie lá.

Enfim a minha laje ia sendo enchida, e eu do meu pequeno escritório na parte da frente ia só ouvindo aqueles papos diferentes da equipe "profissionar" como fazia questão de frisar o seu Zé (o gato).

Em certo momento uma roldana pelo jeito escapou e então pararam para fazer reparos, bem no momento em que eu saia para dar uma olhada no andamento da obra.

- Coloca uma Talba aí!

- Só uma Talba achu qui num carece.

- Tá bom intão, vãmo ponhá duas Talba.

- Talba não, vamo ponhá um pedaço de balaustra.

- Não duas Talba é mió.

-Porque é que vocês ficam falando assim? – disse eu pouco sossegado com aquele diálogo de loucos.

-Di ãssim como?

-Talba pra lá , Talba pra cá, GENTE, falem correto: Tábua, Tábua é o correto.

- Talbua..., Talbua..., só pra cumpricá, tão te intão, vãmo colocá duas: Talbua mêmo.(falava isso zombando de mim claro)

Ainda eram 10 horas manhã, e pelo jeito aquele inferno ia durar o dia todo, a tal da Bitornera do seu Zé ficava naquele Chac Chac Chac Chac. Os homens gritando, a Bitornera Chac Chac Chac...meu deus se eu soubesse que seria assim eu também tinha ido pra casa da minha sogra, derrepente o barulho da Betoneira parou.

- Seu Zé achemo!

-Chemo o que? Diachu!

-A marquita do Zóinho!

-Don tava?

-Donde tava ieu num sei mais qui tá la drentu da Bitornera tá sim, e ela parô de funcioná! Acho qui ela tava dem drum sá de cimentu!

- Seu Zé...o seu Zé, cabô a água!

- Mais será o beniditu sô, mais essa agora?

-Sem água num dá pra trabaiá seu Zé, meu denti ta latejano hóme!

Eu do local que estava podia ver a mangueira da torneira do quintal escorrendo água por um ajuste mal feito e fiquei incucado com aquilo e então fui lá ver o que estava acontecendo.

- Como que está faltando água se está vazando água por todo lado, olhe lá a mangueira!

-Não é dessa não seu Dotô ( e me mostrando a garrafa pet de 2 litros vazia completou) – é dessa aqui!...da boa!

Minha laje ficou pronta lá pelas 10 da noite, tive que comprar umas Ponta de peito (muito apreciada por eles) lingüiça (com trema, embora tenho certeza eles nem saibam o que seja isso), pão, limão etc. assamos a tal de Ponta de peito e lingúiças na minha churrasqueira e quando minha esposa voltou nem acreditou no que viu.

Tava tudo cuzido (inclusive ieu), uma verdadeira Impidimia.

É...o ditado realmente está correto: Papagaio que anda com João de Barro, não duvide: Vira pedreiro.

Pode?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

29 Corpo de Baile 1

Corpo de Baile 1

-Tá cum tu ?

-Num tá!

-Tá cum tu?

-Num tá!

-Tá cum tu?

-Tá não!

-Diachu, cum quem qui tá intão? Quim dos infer!

Ele já tinha perdido bem uns quinze minutos procurando e perguntando para todos, e todos enfileirados no corredor comendo suas marmitas, tomando seus refrigerantes compartilhando aquelas garrafas de 2 litros que eram passadas de mão em mão, e tomada a goladas, direto da garrafa sem usar copos (eu até ofereci mas me disseram: Num percisa não seu Dotô, nóis gosta de ãssim mermo, no bico qui desce mais gostosu).
Então coçando a cabeça em atitude de quem está pensando ele olhou pra cima e gritou lá pra laje!

-Chicão.....O Chicão seu peste!

-Fala seu fi du’a égua!

-Ta cum tu a Marquita do zóinho?

-Tô cum Marmita de ninguém não seu miséra!

-Num é Marmita não disgrama...a Marquita do zóinho seu froxo!

-Nun sei de Marmita e nem de Marquita e nem de Zóinho ninum aquim cima , vê se acha outro pra abestaiá!

- Orra gente inhorante, fóda de trabaiá, vai se fudê intão bódão do carái....

Essa era a rotina na obra, o dia inteiro, um tal de Bódão, gritando com Chicão, com Zóinho, com Parafuso e o escambau e chefiando a todos ?: Zé do Brejo! (que eles chamavam de gato).

Olha eu de novo rodeado de gente do Zé do Brejo, que levou aquela turma toda lá pra minha casa para fazer a minha laje que iria aumentar um pouco a construção nos fundos.

- E então seu Zé do brejo, dá pra fazer a minha laje?

-Mas seu Doto, pá nóis é facim facim...em dois tempu nóis tremina...

-Sei...(eu coçando a cabeça)..lizim lizim....olha lá hein seu Zé!

-Pó dexá cum nóis que ieu areúno os Profissionar, só gente de Catinguria e manda vê!

-Olha lá hein ??,. Tem que ficar pronto em uma semana...nem mais um dia.

-Demorô! , qui ieu demoro mais que treis dia pra fazê uma lajizinha assim desse tamanin? Pó botá fé...si im treis dia num tivé pronto o Doto pó corta meu saco!

E foi assim que eu entrei nessa de novo....Treis dia....pó cortá meu saco...facim facim.

Primeiro dia, não eram nem seis horas da manhã chegou seu Zé com o tal Divino!

- Esse aqui é o Divino, home bão di Laje, né mês Divino?

- Pois qui seu Zé intende mermo, vamos alevantá essa lajizinha em dois tempu, á se vâmo!

E assim foi aparecendo durante o dia todo: Socó , Beleleu, Lindomar, Jaci, Tião, Chesca , Raio Vac , Mandioca (especialista em ferragens que ele chamava : Os ferro) – Beronha e Pitu, alem dos outros que já citei.

A equipe para construção da minha laje então estava formada...verdadeiro Corpo de Baile de mascarás encenando O INFERNO de Rodolpho.

Minha esposa quando viu a turma toda sentenciou: -Vou pra casa da minha mãe (com cara de zangada), quando estiver tudo pronto E LIMPO, eu volto...só você mesmo, sempre me aprontando!

Eu fiquei meio confuso com o comentario dela, mas nem deu tempo de retrucar porque ela saiu xispando dali, levou até os dois cachorrinhos pincher....já vai tarde (eu pensando), mulher em obra só atrapalha mesmo.

E não é que o pessoal sabia trabalhar mesmo?, ao final do primeiro dia já haviam estruturas de madeiras e caixarias e colunas de ferros e um cem número de coisas feitas?

Já no segundo dia faltaram dois trabalhadores e seu Zé do Brejo justificou: Strépi no Dedão e Dor na Cacunda (claro), mas queira ou não a obra estava andando e eu pensando comigo: Quando ela voltar não vai nem acreditar que já esta pronto, aí eu quero ver ela engolir e pedir desculpa!

A frente da casa virou depósito de material de construção, Tijolos – Cimentos – Madeiras – Pedra - Areia , Caçamba de lixo, crianças brincando na areia, cachorro fazendo cocô na pedra, chega e sai de caminhão, fundo musical do meu Balé, faz parte.

Derrepente um corre corre, e todos os homens saindo da obra e indo pra frente da casa e barulho de caminhão chegando fazendo alvoroço.

-Chegô gente, vãmo lá ajudá!, vãmo, vãmo...êh maravilha! Agora ieu senti sustança no negóço, é já que a gente tremina essa laje.

Eu fiquei curioso , porque parecia que estavam muito alegres, contentes como criança quando vai ganhar presente e acorriam para lá em passos firmes e decididos, não me aguentei e fui ver o que era, encontrando seu Zé sendo parabenizado pelos amigos.

Na frente da casa um caminhão velho caindo aos pedaços, todo meio torno por uma carga pesada que pendia pra um lado, soltava uma fumaceira dos diabos e fazia um barulho tão estrondoso que tive que gritar para que seu Zé me ouvisse.

- Seu Zé...seu Zé.., o que está acontecendo?

- O Sr. já vai vê...num sabe não?

-Não (eu coçando a cabeça)

E então descarregaram um volume imenso envolto com lona preta e que era bastante pesado pois foram necessários vários homens para descer do caminhão e então como que suportado em um andor foi intronizado pelo meu quintal adentro carregado pelos ombros dos pedreiros seguidos por uma verdadeira romaria e colocado próximo a obra, e tão logo chegou ao chão eles começaram a desembrulhar a traquitana, seu Zé foi até o embrulho e me puxando pelo braço arrancou de uma só vez a lona preta e me apresentou orgulhoso.

- Seu Dotô...essa é a Bitornera.

Pode?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

28 Mensagem de Texto.

Mensagem de Texto.


Um dia eu estava muito chateado, meu trabalho estava me desiludindo, eu trabalhava, trabalhava, corria, fazia, era explorado, com horas e horas de dedicação.

Chegava cedo e saia bastante tarde e não ganhava hora extra ou sequer um muito obrigado, o pagamento saia sempre com atraso, faltava material de trabalho como papel ofício, filme para máquina fotográfica que eu usava, pilhas para flash, caneta, tinta pra carimbo, enfim um horror.

O carro da empresa tinha pneus carecas e para abastecer eu tinha que fazer malabarismos, só me hospedava em hotéis de quinta categoria para economizar o adiantamento de viagem e assim abastecer o carro com gasolina.

Meu vale refeição valia um pouco mais da metade do valor do prato de comida que serviam em botequim de zona de meretrício, e eu então me virava com pão de padaria com algumas fatias de mortadela que eu mesmo comprava e trancado no quartinho de hotel cortava, passava margarina e com um guaraná de 02 litros, comia satisfeito, afinal estava trabalhando.

As vezes tinha que ficar uma semana em uma cidadezinha o dinheiro do adiantamento acabando e a empresa demorando para mandar uma ordem de pagamento ( era assim que chamavam transferência eletrônica naquele tempo), e nas horas de folga, como não tinha TV no hotel, e nada mais pra fazer eu saía a esmo, olhando as pessoas e sentado na praça fumando um cigarro ia orando e pedindo para que o tempo passasse bem rápido e eu pudesse voltar para a segurança do meu lar e da minha cidade.

Eu realmente estava amargurado aquele dia, desgostoso com a minha sorte, com a minha situação profissional e financeira e descrente de que Deus estivesse me olhando com bons olhos, afinal, parecia que ele não mais se importava comigo, pois estaria vendo a minha situação e não fazia nada para ao menos melhorar um pouquinho o meu destino.

Naquele banco de praça, olhando para o nada, posto que estava compenetrado em ficar com dó de mim e ralhando com Deus pelo desatino, fui despertado por um senhor bem velhinho, barbas brancas e magrinho, com bengalinha feita com galho de árvore, que usava um terninho cinza, camisa branca muito alva e gravata borboleta ( não é comum a gente ver alguém usando gravata borboleta hoje em dia).

Ele sentou-se ao meu lado e vendo minha expressão de melancolia, depois de pedir licença por estar em incomodando disse que havia lido em um jornal uma notícia muito interessante e disse:

O grande dilema do criador, é ser criticado por tudo e por todos
Que mesmo com todos os tudo deste mundo, conseguem fazer
Um simples quase!


Depois de ouvir aqueles palavras, tive uma crise de choro, coloquei minha cabeça entre os joelhos e com minhas mãos tapando meu rosto disse ao velhinho, me desculpe por chorar , é que eu estou muito triste neste momento e...

Quando olhei o homem não estava mais por lá...já era tarde e a praça estava fazia...um vento gostoso e fresquinho açoitava lentamente as folhas das árvores..., o entardecer se anunciava assim como o trililar do meu Bip informando chegada de mensagem de texto que dizia:

Não deu pra fazer depósito -terá que esperar mais 2 dias!

Pode?