Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




sexta-feira, 6 de março de 2009

24 Injeção.

Injeção.


- Mais forte do que as armas científicas atuais...supera o impossível..., domina o mundo da quarta dimensão e luta pela paz e pela justiça...Nacionarooooo Roooodolpho...ZAZZZ!

E assim, eu devidamente trajado com capa feita de toalha de banho e equipado com meu pára-quedas especial de guarda chuva, me joguei de cima do telhado da cozinha e caí em cima de um arvoredo que minha mãe tentava fazer crescer, mas que não contava com a minha ajuda , restando escoriações causadas pelos galhos da arvorezinha, um ferimento de 6 pontos na perna, causado por uma cerquinha que protegia a arvorezinha e uma bunda dolorida causada pela incompreensão de minha mãe.

- Seremos todos transformers., faremos do mundo um Claybom Cremoso, nada poderá nos deter, nem a chuva, nem o frio, nem o cansaço nem o sono!

Eu passava os dias e tardes nestas batalhas imaginárias, ou em escavações que fazia por todo o quintal á procura de um poço de petróleo ou de uma jazida de diamantes ou ainda então , quando estava com meus amiguinhos pegava quase todas as facas da cozinha de casa e municiava a minha tropa que integrava meu batalhão de expedição de desbravadores pelo mundo perdido dos Bandeirantes Guaporés.

Acompanhado também de meu fiel escudeiro Silver (meu cão Bob) e empunhando a minha espada de Liga da Justiça Estelar, bradava: Tander...Tander...Tander...Ohhhhh, e da-lhe surra no pé de banana: Pithhhhhh com minha pistola de raio laser...Pou...Pou...Pou nos bandidos assaltantes de carruagem dos dinheiros da rainha da inglaterra e de outras nações amigas.

Fazia aros ou amarrava latas e saia por aí a correr conduzindo minhas rodinhas ou pneus fazendo alvoroço: RRRRRRR.....RRRRRRR.....FRIIIIIIII ( nas curvas), subia nas arvores como macaco e no mato eu era o Jim das Selvas , á menos que estivesse empunhando um arco e flechas feito com o que restou de algum guarda-chuvas, ou ainda assoprando bolinhas colhidas de algumas arvores usando pedaços da antena de televisão como canudo para atirar o dardo fatal.( a minha mãe me cobrou as antenas até os meus 40 anos).

Maria mole no cone de casquinha que escondia algum brinquedo ou bechiga, doce de abóbora em formato de coração e o Pedro Bó ? quem não lembra dele? Suspiro cor de rosa com bolinhas coloridas enfeitando, paçoca farelenta que virava um nada na mão da gente, doce de leite com duas cores, uma era doce de leite e a outra, alguma coisa também parecida com ele...uma delícia.

Quebra queixo tirado com martelo, piruá do carrinho, raspadinha de menta, algodão feito na hora naquela máquina esquisita que eu ficava horas tentando decifrar como aquilo acontecia ( ainda hoje fico pasmo), manga verde com sal, roubar jabuticaba na associação médica...

Com o tempo passando comecei a mandar correio elegante para a amiga com quem vim até a quermesse só pra ter o que ficar falando com ela, sobre a curiosidade dela em saber quem havia feito aquilo, segurar na mão pra atravessar a rua e esquecer de soltar bem depois de haver atravessado, até as mãos ficarem úmidas de suor e quentes de paixão.

Tudo isso foi legal, mas injeção eu detestei.

Pode?

quarta-feira, 4 de março de 2009

23 Boa hora.

Boa hora.

Somente aqueles que têm irmã é que saberão avaliar o que estou contando, afinal, somos todos (aqueles que têm irmã), sofredores, abnegados e porque não dizer, vítimas silenciosas das agruras e vicissitudes porque temos de passar nas garras destes seres cruéis.

Eu não podia fazer nada e nem precisava fazer algo para que a culpa fosse minha e recebesse cascudos , beliscões, puxão de orelha, safanão, tapa, pontapé, chinelada e muita surra...afinal eram outros tempos e isso era normal e até corriqueiro.

- Oi amiga tudo bem ?

- Oi tudo bem amiga, só a minha mão que anda doendo um pouco...

- Já sei..., deve ter machucado batendo no seu filho!

- Como é que sabe ?.

- Eu também sofro como você...Vô ti contá... tirei meu gesso ontem ( e mostrava o braço) , não é que o ladino do meu filho se desviou e eu bati meu braço na pia e quebrei em dois lugares?...mas não se preocupe não, ainda consegui bater nele com a minha esquerda.

- Olha, ser mãe realmente não é fácil amiga.

A disgranhenta da minha irmã usava tudo, era só me olhar a já gritava : Mãe o Rodolpho ta me batendo !, se queria algo e eu não dava : Mãe o Rodolpho tá me batendo !, se eu estava com o pé na mesinha da sala: Mãe o Rodolpho tá...!, – se o pão dela caia ou se ela estava aborrecida por qualquer coisa: Mãe o Rodolpho tá...!

De forma imediata e sem nem olhar para os lados dá-lhe cascudo no menino, joga tamanco no moleque, tasca-lhe vassourada no infame., tudo porque a lindinha, a queridinha da mamãe, o bilú tetéia da vóvó, a megera aos olhos do sofrido irmão, estava dizendo que havia sido amuada pelo ladino, o mal criado, o peste o malvado EU.

Assim, o tempo foi passando, crianças crescendo, personalidades se amoldando,formação de caráter etc, mas algumas coisas teimavam em não mudar, a minha mãe e sua dureza no trato com os filhos e a malevolência infinita da minha irmã, mas um dia...

Eu já trabalhava no Banco perto da nossa casa e almoçava em casa todos os dias e minha irmã não fazia nada (claro), estudava( pura obrigação) ajudava na limpeza e ficava ao telefone com as amigas o dia todo.(tambem óbvio).

A Minha mãe tinha um xodó (fora a minha irmã) ...um carrinho de bebidas onde ela colocava de tudo mas principalmente Taçinhas de Cristal, (ela dizia que era pra ser usado em momentos especiais, mas já a 10 anos que estavam por lá), ele ficava entronizado na sala ( só faltava ficar bem no meio tipo uma fonte), tinha umas toalhinhas, pegadores metálicos, baldinho de gelo de prata e um monte de frufru, eu nem passava perto dele (gato escaldado tem medo de água fria).

Um dia logo após o almoço, minha mãe tinha saído e minha irmã estava passando aspirador na sala quando acidentalmente ela esbarrou no dito carrinho de bebidas.(o xodó)...quebrou uma das perninhas dele.(o xodó)...ele pendeu pra um lado e lentamente derramou todas as tacinhas de cristal... todos os penduricalhos...(o xodó), o baldinho de gelo, pegadores e até as bebidas foram ao chão fazendo o maior estardalhaço.

Eu saí da cozinha e fui pra sala ver o que havia ocorrido e lá estava a minha irmã (coitada)...Branca...Translúcida...quase uma holografia...com as duas mãos na cabeça....literalmente desesperada olhando o que ela tinha feito... ela não conseguia falar ou se mover, acho que estava até catatônica, estarrecida, em coma ( cá entre nós uma graça).

EU, percebendo tratar-se de uma situação especial e vendo minha irmã naquela situação difícil, tentei ajudar e reavaliar as coisas...passei por ela e peguei uma das taçinhas ( ou pelo menos o que havia restado dela), a taçinha estava até inteira...só a parte de baixo é que havia quebrado (o pezinho) , peguei a taçinha e ergui bem alto...minha irmã me olhava com lágrimas nos olhos e tremendo, tentando acalmá-la foi que eu disse.

- Não se preocupe, eu nem vou voltar a trabalhar agora a tarde...

Minha irmã chorando e balançando com a cabeça de forma afirmativa.

- Eu ficarei aqui mesmo esperando a mãe chegar junto com você.

Ela olhando para mim com os olhos marejados mexendo a cabeça positivamente.

- Não vou sair do seu lado, aconteça o que acontecer....

- Eu.....eu....(ela balbuciava), quebrei sem querer!

- Eu sei...eu sei...Claro que foi, não se preocupe ( e abracei ela).

- Quebrou uma das rodinhas e então caiu tudo....(chorando no meu ombro).

- Calma... calma, vai tudo ficar bem, não se preocupe, eu ficarei com você até o ultimo momento.

- hãããã???.

- Sim minha irmã...chegou a sua Boa hora (fazendo o sinal da cruz)...Hoje, a Mãe vai te matar,(ela me olhando atônita), ainda bem que eu não estou na sua pele,fique tranquila, eu vou fechar os seus olhos...onde quer que eu jogue as suas cinzas?

Hehe!

Pode ?