Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.




segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

11 A chorona

A Chorona.


Morávamos no 11º andar de um edifício em frente a praça Rui Barbosa, em uma República que intitulávamos “Computação Oito” , formada só por homens, e no andar de cima, uma República formada só por mulheres que se chamava “Sódamas e Gangorra” , e uma delas era a Daniela , para nós simplesmente “ Dani”, que vivia nos visitando, trazendo consigo um rosário de lamentações que faziam juz ao apelido que lhe demos de “Chorona”.

Tocava a campainha e ao olharmos pelo olho mágico e vendo a Dani gritávamos “Que Deus nos ajude”, e todos se preparavam , se acomodavam ou se escondiam, e ao abrimos a porta, ela sem cerimônia, se embarafustava para dentro, aos prantos, desvairada, louca e completamente fora de si.

- Pu-ta – que – o -pariu -, vocês não sabem o que me aconteceu....- e então começava ela...e dá-lhe desilusão amorosa e com a raça humana, e toma-lhe tristeza ante um namoro problemático com um tal de Paulinho, e desfiava um carretel de decepções tão pungentes, que só paravam quando algum de nós dizia: Quer tomar ou comer alguma coisa?

- -Ai ! que gracinha, aceito sim , muito obrigada, é que quando eu fico triste, desconto tudo em comida e bebida, tem vinho?

E sem esperar sequer a resposta, invadia nossa cozinha e começava a literalmente saquear nossa geladeira, dizimava nossa dispensa, aniquilava nossos estoques de provisões, e como se não bastasse, , dilacerava nossas almas ingênuas e complacentes com a dor alheia, com suas admoestações e lamurias, e ao sair dizia sempre “Vocês são uns amorécos, uns fofos!” . , deixando atrás de si, uma montanha de louças sujas, copos ainda quase cheios, pedaços de franco, farelos no sofá, tapete desarrumado, revistas espalhadas, guardanapos amassados, talheres por todo canto e um sem fim de desordem, que tínhamos que perder algum tempo para colocar a casa novamente em pé, após aquele desastre .

Aquela rotina de Tornados e tissunamis propiciados pela Dani, perdurou por mais uns dois anos, até que o destino de nossas juventudes nos levaram para outros caminhos, outros Vendavais e Tornados, por vezes tão avassaladores e destruidores de bens materiais e almas desconsoladas, tal como a Daniela, que nas minhas recordações , por vezes saudosistas, dos tempos de juventude desvairada, com um pouquinho de carinho complacente, ás vezes perguntava a mim mesmo “ Como será que está a Dani? , será que está mais feliz?, será que casou-se com aquele namorado que ela tanto amava e lhe fazia correr rios de lágrimas salgadas?, ou será que acabou explodindo, de tanto comer perante este mundo tão cheio de mágoas, desavenças, desatinos e tristezas?”

Um dia encontrei um amigo do “ Computação Oito “ , e enquanto tomávamos uns chopp, naquelas mesinhas ali da rua das flores, num papo animado, regado a batatinhas e salaminhos, conversa vai, conversa vem, gostosas recordações foram despertadas , de fatos que se perpetuaram em nossas almas, cintilantes como cristais de brilhantes reluzentes e muito ávidos de polimento, quando então perguntei.

- Lembra da Daniela ? , nunca mais a vi, como será que ela esta?

- Lembro sim, mas nunca mais a vi também, mas lembra do Paulinho ?, o namorado dela?, ganhou na loteria sozinho na semana passada e se mandou do Brasil!

- XIII., dissemos juntos – tomara que ele tenha levado a Dani junto, senão, alguém vai ter um problemão pra resolver.

E assim, continuamos conversando sobre aqueles tempos,,,, Bons tempos do Computação Oito , e das peripécias e mazelas em nossas saudades, perpetuadas pela nossa amiga Daniela, a Chorona, que morava no Sódama e Gangorra.

Pode?