No Prelo.: 2009-01-04

Porque um Blog?

Alguns amigos me perguntam sobre o que estou escrevendo no momento?
Escrevi durante algum tempo para o Jornal do Estado (Curitiba/Paraná), para alguns Jornais e Revistas Técnicos escrevia matérias tambem técnicas ( Seguro em Foco foi um deles).
Mas o que estou escrevendo no momento são crônicas, se é que posso rotula-las com este título!.
Na verdade um pouco de verdade e um pouco de fantasia sobre a verdade.
O Livro está praticamente pronto, daí: No Prelo!.

Vou postar aqui algumas dessas pequenas estórias e conto com a compreensão dos amigos, sobre meus erros e lapsos ( que não são poucos).

Bem sei que de boas intenções, está ladrilhada a estrada que leva ao inferno, contudo...Como quem está na chuva pretende se molhar.

Adoraria receber de algum amigo uma toalha bem felpuda.

Rodolpho.

domingo, 4 de janeiro de 2009

13 No Chafariz da Praça Osório.

No chafariz da Praça Osório.

Tive um sonho esquisito estes dias, e eu estava (no sonho), ouvindo rádio, assistindo noticiário na tv , ou algo assim...

A RPC informa:

Um fato incomum acontece neste momento na praça Osório em Curitiba, que deste esta madrugada, tem seu Chafariz jorrando Chopp!

Equipes da Surema, IAP, Bombeiros e AAs., estão desde esta madrugada, monitorando o local e isolando com faixas de segurança as cercanias da praça.

O inusitado foi percebido pelo porteiro de um edifício que trabalhava no período noturno e sentiu cheiro de cerveja e ao procurar a origem se deparou com o chafariz no meio da praça vertendo espuma branca e cheiro forte da bebida.

A repórter Thaiz Beleza , está nas proximidades do local e nos dá mais informações sobre o que está acontecendo..é com você Thaiz!

-Boa tarde Rosana., nós estamos aqui com o porteiro do edifício quase em frente ao chafariz da praça Osório onde desde a madrugada, está vertendo chopp., e o seu Edmir , porteiro do edifício vai falar com a gente.

- RPC: Seu Edmir, como foi que o Sr. descobriu que estava vertendo Chopp,do chafariz?

- PORTEIRO: Pois óia, eu escuitei o baruinho da borbulha e fui inté na praça assuntá, e pensei qui era sabão, mais na dúrvida aresorvi exprimentá......é choppis mêmo, e do bom, e é inté geladim.

- RPC: O Sr. chegou então a beber do chafariz?

- PORTEIRO: Bebê, bebê mesmo?, eu não bebi não sinhora, mais exisprementei bem ...uns 4 o 5 litro, que é pra não menti pra ninguem e fala cum certeza do acuntecido.

- RPC: E o que o Sr. acha que está acontecendo?

- PORTEIRO: Oia., eu acho é que ta acontecendo uma festas e das boa lá., agora tem inté carro de espetim, bloco de carnaval e inté briga já saiu, mas que ta tudo mundo bêbo...isso ieu não tenho durvida que ta sin sinhora!

- RPC: Não exatamente agora, mas o que o Sr. acha que está acontecendo pra verter Chopp no lugar de água no chafariz?

- PORTEIRO: Deus.

- RPC: Como ?

- PORTEIRO: Deus...acho qui ele vortô e feiz como dotra veiz, só que dessa veiz em veiz di vinho, transformô a água em choppis.

- RPC: E Porque o Sr. acha que Deus faria isso?

- PORTEIRO: Ah..isso ieu num posso assuntá cum certeza não sinhora, afinar, tudo que ta qui na terra é dele i ele faiz o que bem intendê né mês?., mais ieu acho cá pra nóis, ..é que ele acha que brasileiro bebe mais cerveja qui vinho....esse tróço di vinho é pra gente das Zorópa.., Brasileiro bebe é cerveja mermo..e choppis é tudo a lesma lerda , amarelin e cum ispuma, e geladim intão? .....tudo cerveja, e essa é Brãma pura dona .....hehe....mundão veio de guerra sô!

- RPC: Repórter Thaiz Beleza, diretamente da Praça Osório, é com vocês studio.

Pode?

1 - Zé do Brejo.

Zé do Brejo

Casa novinha, quase toda pronta, Lavanderia, Casa, Escritório nos fundos e toda murada, só faltava a calçada, e como fazia falta.

Quando chovia aquilo virava uma verdadeira praça de guerra , poças d"água, restolhos de material de construção, buracos, lodaçal, tijolos despedaçados, cacos de telhas espalhados pra todo canto, restos de areia, cimento, uma pilha gigantesca de madeiras que davam pra construir uma meia água, e o pior, , meu cachorro Fila, Gigante, Negro, Lindo, todo lépido, o malacafento, pulando no meio daquela balbúrdia, contente e roendo um serrote como se tivesse ganho um pedaço de picanha , que aliás, ele e muito menos eu, nunca vimos ao vivo e a cores, acho que só por fotos, dos anúncios de açougue.

Então não tinha jeito mesmo, fosse como fosse, a calçada era uma prioridade, como costumam dizer nossos políticos de plantão: Urgência Urgentíssima , mas como fazer se o dinheiro era pouco?, o jeito foi procurar um pedreiro da região, que fosse bom o suficiente para fazer um trabalho bem feito e principalmente, que o custo estivesse dentro do meu já tão minguado orçamento.

Pergunto pra um, pergunto pra outro , e eis que acabo no Botequim do seu Ceará, lugar freqüentado pela Nata e a Ricota, dos Pedreiros e Mestres de Obra daquelas bandas, que na realidade se auto-intitulam: Engenheiros da Construção Civil não Diplomados, e aí, de quem discorde do rótulo, sobretudo se a discórdia ocorresse ao final da tarde, quase denoitinha, quando lá no Botequim do Ceará, eles se reúnem ao final do árduo expediente, contando seus causos e tomando seus tragos , porque afinal, ninguém é de ferro.

Foi no Boquetim do Ceará que conheci e contratei para fazer a minha calçada o seu: Zé do Brejo , um negão matuto, de seus 70 anos, em cuja uma das mãos falta um dedo “ feito o lula”, que havia sido decepado por ele mesmo com um facão, quando abria um Côco.

Já na frente da casa, o seu Zé do Brejo, media daqui, media acolá, lambia a ponta do lápis, coçava a orelha, futucava o nariz tirando um tatu de dar medo, olhando pra mim de soslaio, dava uma risadinha e anotava em garranchos, alguma coisa numa folha de caderno que eu dei pra ele, e volta e meia repetia: Isso é moleza pra nóis seu Dotô ! , e ao final daquela inspeção apresentou seu orçamento de material e mão de obra, deixando claro que poderia faltar um pouco de material ao final da obra, mas que era melhor faltar do que sobrar, afinal , como dizia ele:

-Sem serventia adispois, isso só istróva – com o que eu concordei pois achei bastante coerente, e então fixamos que a obra duraria um máximo de 15 dias.

Eu já estava preocupado, quando 20 dias depois de iniciada a obra o seu Zé do Brejo disse:

- Eu num disse pro Dotô que ia fartá material?
- Pois é disse mesmo – disse eu – e disse também que faria a calçada em 15 dias no máximo, mas tudo bem.., vamos lá, o que é que está faltando?
- Pois Óia, a CARÇADA já já te inté prontinha, teve uns atrapio aí, como se diz: Uns entrevero que postergaru a Obra, Sá cumé? , mais vai fartá bens uns 100 saco de cimento, ah isso vai sim sinhô.
- Orra seu Zé – disse eu já meio puto da vida – O senhor havia dito que para fazer a calçada toda, precisaria de 100 casos de cimento, e agora o senhor pede mais 100 sacos?
- Pois é seu Doto, fazer o que?, ieu disse que ia fartá material, mais quando tivé tudo Prontim, Prontim , e o doto oiá para quéla CARÇADA Lizim, Lizim, , o Dotô vai inté te dó de pisa nela, ah que vai isso vai sim sinhô !

O pior é que ele dizia isso olhando para minha praça de guerra, como se ao longe de sua imaginação estivesse vendo, acredito eu , até borboletas voando alegremente naquele paraíso.

Um dia seu Zé não apareceu, e ao final da tarde uma mulher enorme, com 03 crianças pequenas á tiracolo, surgiu do dana, na frente da casa e sentenciou:
- Tá Costipado !
Passados alguns dias faltou de novo, e novamente a mulher:
- Tá atacado das Bicha ! e por aí vai:
- Tá cum furunco !
- Tá cum dor dólho !
- Tá cum Istrépi no Pé !
- Tá com carnegão na cacunda !

E foram tantas as desgraças que atacavam o homem que a tal de CÁRÇADA , já fazia aniversário de 2 meses e nada de ficar pronta.

Numa bela tarde , lá pelas 3 horas eu chegando em casa, já da esquina vi o seu Zé sentado no meio fio, do outro lado da rua, olhando fixamente a minha praça de guerra, como a meditar, e eu chegando perto perguntei.

- Seu Zé?, que houve? , porque não está lá (apontando para a casa), fazendo a calçada?, e está aí , só olhando pra lá?, e ele disse.
- Seu Doto, senta aí do meu Ladim – batendo com a mão faltando dedo no meio fio ao seu lado – só um Instantim..e eu sentando ao lado dele ele continuou ...
– Pois Óia seu Dotô, ( e eu olhando também pra lá), Um dia o Dotô vai senta bem aí mês, onde o Dotô ta sentado e vai oiá pra lá e vai dizê bem di ãssim : Aquela CARÇADA, quem féis foi o FINADO seu Zé!

Nisso eu não me agüentei e saltando de um pulo, fiquei bem na frente dele e com o meu dedo em risque gritei, já bastante irado.

- Pois óia qui seu Zé do Brejo , e mi iscuite mutcho bem que é pra adispois num dizê que ieu é que sô Marvado, e num assuntei antes ..., o Sinhô trate de tremina minha CARÇADA e é já..., pruque sinão, ieu memo FINO o Sinhô, cum a CARÇADA sem treminá – pruque ieu ando cuma querença de isganá e arrancá o resto do seus dedo que o Sinhô nem imagina o quanto ! Estamos conversados?
- Tamo sim Sinhô – disse ele já em pé com os olhos esbugalhados de susto ante a minha reação explosiva.

Minha calçada ficou pronta dali uma semana : Lizim , Lizim, , mas do Zé do Brejo eu não me livrei tão cedo, mas isso é outra história que eu conto... Adispois !

Pode?

No Prelo.

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domingo, 4 de janeiro de 2009

13 No Chafariz da Praça Osório.

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